quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

895 | AMANHÃS E MAIS AMANHÃS | 06/02/19





Cães farejadores espreitam pelo quintal, aliás eles sempre estiveram por lá.  A nossa vitalidade os afugentou, ou pelo menos, os conservou à distância.
Agora, na época em que as saídas de casa são mais espaçadas e por um tempo mais curto, que já não se tem mais o mesmo vigor para andar, para cuidar das roseiras e retirar as ervas daninhas, eles apertam o cerco.


Nada contra os cães, animais adoráveis e evoluídos, capazes de praticarem um amor que os homens, ainda não são capazes, de sentirem e manifestarem.  Mas aqui, eu faço uma alusão às vicissitudes da vida, aos infortúnios tão certos quanto a morte, depois do nascimento, é claro.

Passamos a nossa existência, como se não houvesse amanhã ... mas há amanhãs e mais amanhãs, para os quais, nunca estaremos preparados.  Podemos nos preparar para tanto, no sentido da previdência propriamente dita, com recursos monetários, mais um plano de saúde ... mas emocionalmente nunca estaremos.  

Quer aconteça conosco ou com alguém do nosso convívio muito próximo -  para as 'intempéries da vida' - nunca estaremos prontos, para encarar tal fato, de uma maneira tranquila.

Quando acudimos e acompanhamos nossos familiares mais velhos, em suas velhices, não damos a eles tudo o que eles precisam, por melhor que façamos, damos o que podemos dar.  

Sabemos muito bem disso e passamos a sentir o drama que vivem, enquanto nos imaginamos no lugar deles.  Aos poucos e às vezes, não tão demoradamente, nós os vemos 'descerem ladeira abaixo', evidenciando a decrepitude que é certa, tendo que abrir mão de sua autonomia e privacidade, até de sua individualidade.

Enquanto eles descem, nós também descemos, é evidente.  Talvez esse seja o ponto mais nevrálgico, porque sabemos que fazemos a eles, tudo o que está ao nosso alcance, da forma como nos é possível, mas e quando chegar a nossa vez?

Amanhãs e mais amanhãs existem, já temos mostra disso, em nossas vidas, todos já tivemos uma certa perda, quer seja de agilidade, de entendimento, ou até de memória.  Já fomos obrigados a exercitarmos um pequeno desapego aqui, outro ali ...

E de desapego em desapego, vamos nos conscientizando do que nos é  necessário: desambição e desprendimento ... para enfim, fazer sobrar na peneira o que realmente importa: a ligação que temos com as pessoas, com toda a natureza.  Coisas que não guardamos em gavetas, cofres ... justo o que podemos levar conosco, por essa mesma razão!



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