terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

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DUAS ALMAS 
18/02/17 





Fechei os olhos para ouvir a canção tocada ao piano. Ouvi também o violino chorando, mas me concentrei no piano, porque esse choro era só em solidariedade.
Pude sentir, que a canção trazia em si ... duas almas, eram duas canções – uma sobreposta à outra ... e embora uma fosse um pouco mais esperançosa – a sobreposição era perfeita.
Ambas contavam a mesma estória, sob diferentes versões - bem no fundo, as duas se distinguiam. Cada uma com sua própria vida e caminhos, que se separadas, fariam sentido sozinhas – mas juntas alcançavam um maior efeito! 
Eram tocadas por mãos diferentes do mesmo pianista.  Uma lamentava e insistia em bater as teclas a obter os sons mais brandos e tímidos, sempre os mesmos.  Por mais que a outra, mais triste e mais desalentadora, a fustigasse – ela continuava a tocar repetidamente – podia-se ouvir bem nítido, o diálogo entre as duas.  Mas para cada uma das perguntas ou lamentações que a primeira fazia, a segunda lhe respondia com mais veemência - numa tristeza com tons mais altos.
A primeira batia incansável - que ainda era tempo! A segunda derrubava por terra, revoltada, toda e qualquer tentativa ou argumento, de se amenizar a tristeza profunda que as arrastava,  se negando a conter  sua fúria.
Foi uma longa e triste conversa, tensa, um difícil consenso, uma superposição da tristeza, mas a harmonia aconteceu.
Até que ao final, as duas concordaram e passaram a caminhar juntas pelas teclas. Decidiram por executar a mesma canção, em uníssono, à duas mãos, como se fizessem um arranjo, ou tivessem feito um pacto.
Enfim, as duas eram uma.  Bem ao fundo ... um ouvido atento, ainda podia sentir - a voz de cada uma das almas.

Era essa a canção que ouvi:
https://www.youtube.com/watch?v=pUZeSYsU0Uk

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