Um garotinho amante de circos , durante um espetáculo em sua cidade, notou que de todos os animais envolvidos nas apresentações, o elefante era o que mais lhe chamava a atenção. Enorme, fazia uma demonstração de peso, tamanho e força descomunais! Mas percebeu que depois de sua apresentação e até pouco antes de voltar ao picadeiro, o elefante ficava amarrado por uma das patas com uma corrente presa numa pequena estaca cravada no chão. A estaca era um minúsculo pedaço de madeira enterrado uns poucos centímetros no solo e, embora a corrente fosse grossa e resistente, era óbvio que esse imponente animal poderia fugir facilmente, puxando o pedaço de madeira do chão. O garotinho perguntou então aos adultos: “Por que um elefante tão forte não escapa dessa estaca tão frágil?” E eles responderam: “O elefante do circo não foge porque sempre esteve preso a uma estaca parecida a essa desde que era muito, muito pequeno, quando o pedaço de madeira fincado no chão ainda era muito forte para ele. Não que não tivesse tentado escapar. Tentou muitas e muitas vezes, até que um dia, um terrível dia para a sua história, o animal aceitou sua impotência e resignou-se ao seu destino. Esse enorme e poderoso elefante que vemos no circo não escapa porque acha – coitado – que NÃO PODE. Ele tem o registro e a lembrança da sua impotência, daquela impotência que sentiu logo depois de nascer. E o pior de tudo é que nunca mais voltou a questionar seriamente esse registro. Jamais, jamais tentou pôr sua força outra vez à prova.” ¹
Esta simples, mas significativa história, nos faz pensar sobre o impacto que situações vivenciadas na infância podem ter sobre as nossas vidas. Segundo Skinner, grande (pra não dizer o mais importante) nome da Terapia Comportamental, os comportamentos são aprendidos, fato que pôde ser comprovado através de infindáveis estudos e pesquisas realizadas com humanos e animais. Ninguém nasce com medo de ratos ou baratas, por exemplo. Os pais, familiares e estímulos oferecidos durante os primeiros anos de vida nos ensinarão do que e de onde devemos ter medo: “Não mexe, isso machuca!”, “Não encosta, é perigoso”, “Não chegue perto, pode cair!”
E, se somos capazes de aprender um comportamento, será que não seríamos também vulneráveis a palavras e reforços negativos e positivos?
“Você é um desastrado!”, “Preguiçoso!”, “Burro… Olha seu irmão como é estudioso!”, “Você come demais, é um comilão!”, “Que menino lerdo… anda depressa!”
Um ser humano que passa a infância escutando de seus pais ou cuidadores que é preguiçoso, burro, não presta, é lerdo ou incapaz, assim como o pequeno elefante, pode absorver a informação e crescer limitado por essa “estaca”. Sim, ele pode! Sim, ele é capaz! Mas como passou boa parte da vida sob reforços negativos, deixou de questionar esse registro. Apenas aceitou o fato. Aprendeu.
Outra situação muito comum e delicada é a birra. A criança se joga no chão porque quer aquele brinquedo. A mãe, envergonhada com o escândalo, compra o brinquedo para calar a boca do filho, ou sugere um sorvete para distraí-lo. O que aconteceu aqui? O comportamento negativo (birra) recebeu um reforço, ou seja, a criança aprendeu que essa é a maneira de conseguir o que deseja.
E será que isso teria poder de causar alguma consequência na vida adulta?
Toda situação impulsiona algum tipo de comportamento (alguns visíveis e outros não) e esses comportamentos produzem consequências, positivas ou negativas que, por sua vez, irão refletir e interferir de alguma forma em nosso comportamento no decorrer da vida. Não é raro encontrar adultos que se acham incapazes e limitados em diversas áreas da vida confessando que passaram a infância escutando o quanto eram burros e desastrados. Ou aqueles que não fazem mais birra se jogando no chão, mas gritando e apontando o dedo na cara de quem não satisfaz suas vontades.
Segundo os estudiosos e profissionais da terapia comportamental (behavioristas), os reforços negativos tendem a impulsionar o processo de fuga e esquiva. Para ficar mais claro, vamos citar um exemplo. Imagine um adolescente que prometeu ao pai voltar as 22h, mas chegou a meia-noite. Se o seu pai apelar para o reforço negativo teremos uma fala parecida com essa (seguida de safanões na cabeça): “Você não tem relógio? Não sabe mais ver as horas? Não é digno da minha confiança, um mentiroso, um burro que não sabe ver as horas! Falei pra sua mãe que não podíamos confiar em você…”
É muito provável que, neste caso, o garoto seja impelido a um comportamento de fuga, como a mentira, por exemplo, reforçando negativamente – também – o comportamento do pai, que voltará a se enfurecer. Temos então um ciclo.
Vamos agora imaginar a mesma situação substituindo o reforço negativo pelo positivo: “Filho, combinamos um horário e você chegou duas horas depois. Gostaria de escutar o que aconteceu e depois vamos juntos pensar em alguma saída para que isso não se repita. Confio muito em você, sei que é um garoto responsável, não gostaria de perder essa confiança e prejudicar nosso relacionamento.” Houve então, além do reforço positivo, um espaço para o diálogo, o que certamente oferecerá caminho para um comportamento mais adequado e equilibrado.
Sim, é possível que um reforço negativo incida e altere um comportamento, pois quando associamos o comportamento a uma emoção desagradável tendemos a mudar. Skinner enfatiza que um organismo aprende quando seu comportamento é fortalecido por um reforço ou diminuído por uma punição (reforço negativo), mas frisa que as chances de um bom comportamento reincidir após o reforço positivo é muito maior e apontou alguns princípios importantes para uma educação de qualidade:
1 – é importante a clareza sobre quais comportamentos são esperados e o porquê de sua importância;
2 – a necessidade de se apresentar reforçadores imediatos após a emissão de um comportamento que se queira fortalecer;
3 – ao expor seu filho ao constrangimento, crítica ou retirada de privilégios, pode surgir o controle aversivo. No início ele tende a evitar o mau comportamento para fugir da situação aversiva, mas com o passar do tempo, passará a se esquivar não obedecendo ou tornando-se agressivo, por exemplo.
Observe que temos, como responsáveis, uma grande e importante responsabilidade sobre o comportamento dos nossos filhos. Poderemos ser aqueles que constroem e fincam ainda mais a “estaca” ou os que nem cogitam construí-la. Crianças precisam de limites, regras e disciplina, sim, isso é essencial para o equilíbrio de uma sociedade, mas está em nossas mãos o poder de escolher o caminho do reforço positivo ou negativo.