sexta-feira, 17 de maio de 2024

 1652




PALAVRAS E SAPATOS

As palavras não ditas crescem dentro de nós.  Apesar de nascerem livres e soltas, tornam-se prisioneiras e são capazes de formar frases completas, com sentido e profundidade, numa espontaneidade assustadora.  Perdem a liberdade, para se transformarem em capítulos inteiros e secretos de nossa vida, aos quais ninguém jamais lerá!  Integram o livro de nossa história, guardam as razões, e sem dúvida farão falta, na compreensão dos nossos sentimentos, no entendimento de nossas escolhas e respectivas renúncias.  Impraticável calçar sapatos alheios, impossível conhecer a dor que cada qual carrega.



quinta-feira, 9 de maio de 2024

 91




UM OLHAR SOBRE O COMPORTAMENTO HUMANO  

'QUANDO O MENOS É MAIS' 

 

Quando?  Me apodero dessa frase, pretendendo fazer um uso diferente dela, tangenciando o minimalismo, quanto a dar maior atenção ao essencial e menos foco no excesso.  Tentarei ser clara. 

Temos uma tendência a exageros, de cuidado, preocupação, dedicação.  Amor nunca é demais, e nesse caso, melhor é pecar por excesso do que pela falta, é certo.   Mas aqui falarei do amor saudável, aquele que não tolhe e respeita a escolha alheia.   Com a intenção de permanecermos no controle, via de regra podemos deslisar para o caminho da manipulação, da ‘forçação’ de barra, propriamente dita, quando acreditamos estar certos - do que é 'o melhor'!

Às vezes, é preciso cuidar menos, quando já cuidamos o bastante, e o bastante não foi suficiente para atingir o objetivo pretendido.  Às vezes, é preciso nos preocuparmos menos, quando a decisão final, já não depende de nós, somente.  Às vezes, muita dedicação pode nos esgotar as energias e nos sentiremos cansados e frustrados.  É possível apontarmos a estrada, oferecermos o copo d’água, a ajuda; mas somos mestres em queremos ajudar, antes mesmo de nos pedirem ajuda, antes da sede ou da vontade de caminhar do outro.  Existem pesos que não são nossos e para os quais, não temos força física, nem capacidade emocional para carrega-los.

Uma quantidade maior de um ingrediente numa receita pode estraga-la.  Um tanto a mais de creme nos cabelos, pode ter o efeito contrário. A desculpa constante, para um costumeiro desrespeito para conosco, pode nunca fazer com que ele seja reconhecido, como um comportamento inadequado, a ser modificado.

Apesar de vivermos todos sobre o mesmo planeta, cada um está em um nível de entendimento e os propósitos de vida podem ser totalmente diferentes.  É aí que entra a regrinha ‘menos é mais’, quando é necessário retirarmos o nosso time de campo, para que o verdadeiro jogo aconteça.  Embora espectadores não muito satisfeitos com o resultado, é forçoso reconhecermos, que a luz quando se divide, tem o poder de se multiplicar, e que a nossa interferência no processo, pode ser um obstáculo, para que ela se reflita livre e brilhante, como deve ser.

 

forçação – esse termo faz parte da linguagem informal, é mais fácil de ser falado do que ser escrito, porque fica muito estranho.

domingo, 5 de maio de 2024

1651



¡TU SIEMPRE SERAS!

Cuando mis ojos te buscan, en los lugares habituales y no encuentran más que ausencia; abriré los ojos de mi corazón.  Allí te encontraré, en el lugar que te corresponde. Porque nunca fue una simple imagen, sino una presencia viva y consistente. ¡Siempre lo seras!



domingo, 28 de abril de 2024

 1650




CRIADOR E CRIATURA

Joguei pedras, ignorando que eu tinha janelas.  Tentei alimentar minhas expectativas, depois de cria-las, sem desconfiar, que elas nunca se deixariam domesticar, porque obedecem à natureza selvagem.

Quando minhas vidraças quebraram, pelo efeito rebote dos meus arremessos, fiquei em meio a cacos (alguns bem pontiagudos que feriram) e a uma bagunça de estilhaços menores, que tive que recolher e dar-lhes um destino.  Muitas pedras também, tive que retirar para limpar o espaço onde eu pudesse habitar.

Algumas janelas ainda se encontram sem vidro, através delas posso ver as expectativas pastando livres, pois como sempre, se recusam a comer do alimento que temos a oferecer, preferem se alimentar do que mais lhes agrada – afinal, eu não sei exatamente do que elas vivem!  Vejo algumas, que foram ‘pretensiosamente só minhas’ e que ainda estão por perto.  

Reconheço que outras pessoas, como eu, cometeram o mesmo erro, quiseram colocar-lhes uma coleira ou gravar-lhes uma marca, para tê-las sob controle, mas é óbvio, que depois de criadas, não obedecem ao seu criador.


quarta-feira, 24 de abril de 2024


1649 



FLOR, FOLHAS E FRUTOS 

Uma flor nasceu dentro, sem arroubos coloridos ou de formosura, mas cresce sincera e real.  Ela vive do céu, do solo que a alimenta e a mantém fresca e viçosa; dando-se aos pássaros e insetos que lá vivem.  Bebe também, das chuvas bondosas que caem e lhe tiram a sede.  Os ventos a vem balançar, os raios de sol dançam sobre ela, e em desapego, entrega-se a enfeitar o chão.

Na sua simplicidade e pureza, representa e traduz em formas, o amor, no outono da vida, onde só se esperaria folhagem e frutos.    E no meio das folhas amarelas, faz sobressair a autenticidade e a alegria.  Apesar das folhas caídas e dos frutos não vingados, há folhas que se conservam verdes, há frutos à espera de serem colhidos.


arte __ ottokim

segunda-feira, 15 de abril de 2024

 1648



AQUI

Eu te guardei dentro de mim, longe dos olhares questionadores e a salvo das impossibilidades.  Não me ocorre nenhuma pergunta a ser feita; e aí onde estás, és plenamente possível.





segunda-feira, 8 de abril de 2024

 

1647


 

O MAIOR COMPROMISSO

Prometo não mais, me deixar ferir por ninguém; nem me ferir, por motivo algum!   Darei a cada dia, a sua dor; e à dor, nenhum dia além do que lhe for devido.  Porque sempre haverá aqueles, que ávidos em ferir, por dores, que querem fazer parecer serem alheias, e absolutamente não o são.  Pelo simples prazer ou para dividir a sua dor e nos fazer sentir como se sentem - é de costume, que estejam a ferir, antes que se possa feri-los.  Como num movimento de autodefesa, adotam esse mau hábito, para amenizar o caos que vivenciam em si.

Eu me prometo, dar-me paciência, respeito, valor e admiração.


1646


NEM SEI DE QUÊ

Eu não vejo as andorinhas, sei que elas existem, mas não as ouço, tento me lembrar do alvoroço que fazem.  A minha criança, na sua simplicidade, espera por elas ...  E ela tem fome, nem sei de quê!

Quanto a mim, ouço apenas o murmúrio constante das águas desperdiçadas, que descem para lá do meio-fio, de dentro de mim.

segunda-feira, 1 de abril de 2024

 1645




NA MELHOR DAS HIPÓTESES

A cada passo, a coragem e determinação.  A cada hora, a sua dor.  A cada dia, os seus tormento e cuidado.  A cada semana, a sua feira e a sua devoção.  A cada mês, o seu salário e a cada ano, os seus votos.  A cada década, as suas conquistas e a cada existência, o seu propósito. 

Pequenos pedaços de vida; grandes espaços de espera; a montanha russa dos humores; a curva incerta das certezas,  Alegrias que não se sustentam, mas feliz e igualmente, as tristezas que não perduram! 

Toda noite, o céu pisca para nós, como a dizer-nos: “não tema, porque o sol vai voltar.”  Todo dezembro, vem nos lembrar de outras primaveras, verões, outonos e invernos que ainda virão.  Toda existência nos promete nova chance de errar menos ou de acertar, na melhor das hipóteses. 

A todo instante, uma oração, um horizonte novo, uma folha em branco, energias renovadas.  Afinal,  tudo é questão de constância, insistência, resistência; e não necessariamente nessa ordem.


sábado, 30 de março de 2024

 1644



 PORÉM, CONTUDO, TODAVIA, ENTRETANTO 

Voltando à época glacial da minha formação escolar, eu me lembro de que todos os termos significavam o mesmo.  Apesar do ‘mas’, ser o mais usado - porque fazia mais sentido e os outros serem formas mais rebuscadas e um tanto vazias; subentendeu-se sempre, a mesma ideia – de dúvida, oposição, intensidade ou sobreposição.  Acredito mesmo que o 'mas' seja o mais completo, porque pode ser tudo isso.

A estória que me surpreendia era a do ‘Lobo Mau’, não a do ‘Chapeuzinho Vermelho’, porque sem dúvida o lobo era o personagem mais perigoso.  Embora fosse dissimulado na sua intenção, era mais elaborado.  Só com o tempo (uns bons anos), percebi que na estória era quem mais sabia o que queria, ardiloso e ainda assim, o mais cativante. 

Dada a sua passividade, o Chapeuzinho, para mim passou a ser personagem secundário - o que se deixa enganar pelo Lobo, que como todo bom vilão, é mau, mas sem dúvida o primeiro protagonista do conto.

Existem Chapeuzinhos crescidos, porém com a mesma tendência a serem comidos pelos lobos; outros, porém, já engoliram o lobo e o trazem dentro de si.  Existem lobos, todavia extremamente ferozes, que acabam por serem a refeição da vez ou cometem autofagia.



sábado, 23 de março de 2024

 1643



SEI LÁ O QUÊ!

Nunca fui boa nesses trabalhos manuais: de tricô, crochê, bordado, costura ..., mas hoje, a vida me presenteou com um par de meias. Fui, ou melhor, fomos tecendo um a um os pontos, às vezes, com mãos inexperientes e duras; noutras com dedos hábeis, tricotamos ou sei lá o quê, que tipo de trabalho fizemos!   Óbvio, que resultou numa 'trama' ou tecido concreto, com alguma utilidade!

Imperfeitos ou um pouco menos, a vida sempre se encarregou de acertá-los: de afrouxar, quando os fiz apertados demais; de colocar a força certa, quando estiveram frouxos e desiguais.  Ela sempre atuou como uma professora, supervisionando o trabalho!

O que fazer com esse par de meias?  Tudo bem, se estiver frio eu posso colocá-lo nos pés, mas e se fizer calor?  Não teriam serventia?  Aprendi que sempre haverá pessoas sentindo um frio descomunal, independente da temperatura ou clima.  Na sequência desse mesmo raciocínio, me vem a certeza, de que as meias não são propriamente minhas.  Eu, ou melhor ‘nós’, as confeccionamos juntas, porém elas são de uso para quem precisar!

Nesse par cabe muita coisa, desafios enfrentados com maestria, os covardemente disfarçados; os afetos; a contribuição de todas as pessoas com as quais cruzei; o que me serviu de exemplo, bom para ser repetido, ruim para não copiar - minha experiência de todos esses anos!  Será o suficiente?  Certamente que não!  Muita coisa tem à frente!

Dizem que a experiência é uma luz que ilumina o caminho já percorrido!  Como árvores não se alimentam de seu próprio fruto, nem rios bebem de sua água - eu também devo reconhecer que talvez, essa claridade não me seja útil.  Se essa luz servir para iluminar o caminho de outros, e caso venha acontecer, terá valido a pena, enfrentar a escuridão de alguns trechos.  Deixo à posteridade, uma espécie de legado, humilde, mas legítimo; com a certeza de ter feito como pude, dei o meu melhor, confessando que às vezes, fiz muito além do que dava para fazer.

O trabalho, ainda não está terminado, seguiremos juntas, 'tricotando' ou qualquer outra coisa equivalente, até quando houver linha ou fio, agulha, mãos, permissão ...





segunda-feira, 18 de março de 2024

 1642



ELE DANÇA

Teu nome dança, no céu da minha boca, tem esperança, de ganhar a contradança.  Se recusa a entregar a poesia, o que lhe pareceria descortesia - uma ideia que o ensejo repudia.  Entrega-se a ela e ao seu instinto de permanência, preserva sua própria continuidade, garantindo o seu sustento.

Ele dança, por capricho ou por impulso (!), teimosia (?) ... Porque ouve música, é por isso que ele dança.  Se tivesse voz, ele cantaria!


terça-feira, 12 de março de 2024

 1641




MÚSICA Y GEOMETRÍA

Hay música dentro de mí. Los sonidos corren por las venas y arterias. La fuerza de la vida late por todo mi cuerpo. En cada célula, en cada fragmento de tejido hay una chispa de luz, inteligente, que obedece al diseño sagrado, propiciando la renovación y un nuevo comienzo. Este flujo no cesa, desde el origen hasta el renacimiento de nuevas estructuras, abasteciendo todas las funciones; reparando cada defecto, según la geometría original.

Hay almas que se reencuentran como viejos conocidos, y al acercarse identifican la música que vibra en el cuerpo del otro. Las esencias se reconocen y los corazones sanan.

sábado, 9 de março de 2024

1641 





DENTRO, COMO FORA

Pensamentos são cabelos que ficam do lado de dentro da cabeça.  Cabelos podem crescer, minguar ou emaranhar.  É preciso ter higiene para com eles, e muito cuidado de não se embaraçarem. 

Como os de fora, pensamentos requerem a mesma constante atenção na sua saúde, no seu aspecto e muita cautela na forma como os alimentamos ou onde deixamos que se aventurem. 

Cabelo quebradiço, danificado, fraco é preciso ser tratado ou cortado; pensamentos também pedem higienização, renovação, organização. 

Quando formos pentear os cabelos, não nos esqueçamos de pentear os nossos pensamentos.  Uma limpeza permanente, também é bem-vinda; como os de fora, os de dentro, também podem cheirar muito mal.


quarta-feira, 6 de março de 2024

 1640



FIM E INÍCIO

Quando as águas vierem, estaremos sedentos.  Virão lavar os céus, as ruas, as mágoas - como sempre fazem, dessa forma, fechando um ciclo, para abrir outro. Encontrarão meus olhos e lábios secos.  

Chegarão abençoando os campos e umedecendo as artérias duras.  Irão varrer, uma a uma as folhas, as flores; arrancando algumas raízes, num furor estrondoso e apavorante.  

Arrastarão as pedras e levarão a poeira para o fundo dos mares. Verei as cidades afogadas na sua fúria. Um vento frio descabido fará arrepiar os meus pelos, e é certo, de que nesse tempo, saberei que o outono está próximo.

sexta-feira, 1 de março de 2024

 1639




 ÉS FEITO       

Foste desejo do meu coração, antes de ser fruto das minhas entranhas.  Concebido no imaginário, em primeiro instante, para só depois se formar da carne de minha carne.  Um anseio secreto, de há muito rezado a Deus.  És feito de vida, mas antes, de sonho.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

 1638



TODAS AS CARAS 

Por mais que eu a conheça, sempre me surpreendo com ela.  Após décadas de estreita convivência, ela ainda é capaz de mostrar uma nova e desconhecida faceta, quando menos espero e quero.  Sem dúvida, é de muitas caras, mais instável do que todas as mulheres sob o efeito das quatro fases da lua.

Sinto como se ela, durante todo o tempo, alimentasse uma propaganda enganosa a seu respeito.  Quando julgo estar mirando a verdade, insiste em desatrelar uma ou outra máscara, e quantas tem!  Como se aos poucos, fosse retirando a maquiagem, os acessórios que disfarçam suas imperfeições, sua bela roupa; mostrando-se como é, e revelando-se aquilo, que eu não imaginava que fosse.

É com assombro, que muitas vezes, me deparo frente à sua crueza e secura, se mostrando nem um pouco misericordiosa, para com os meus sentimentos, apresentando-me fatos prontos, não opcionais e totalmente avessos à minha intenção.  Com sua postura impositiva, me obriga trilhar caminhos nunca esperados, apesar dos meus esforços em contrário.  Desconsidera meus planos e vontades, me arrasta por consequências danosas – as mesmas das quais, tanto desejei evitar.  E ao conquistar uma certa maturidade (tanto quanto me é permitido ter), encontro uma utilidade para ela  – de lançar luz sobre os fatos do passado!

Ela é mestra em me fazer inadequado, oferece oportunidades tardias, que teriam sido muito bem vindas em outras épocas. Apresenta novos amores, como flores de outono, quando não há tempo ou coragem para vivê-los.  Convida a dançar, quando não tenho pernas; dá nozes, quando já não tenho dentes.

Mesmo já tão calejado, sucumbo ao seu encantamento, para depois acordar subjugado por ela.  Por vezes, parece que usa de hipnose, para atingir seu intento, e acho que é de caso pensado que o faz, me leva ao engano e só então, profere a sua sentença: “É assim que vai ser!”   Constato que o 'arbítrio' não é tão 'livre' assim!

Eu não terei conhecido todas as suas caras, até que ela, totalmente nua, venha se deitar comigo em minha cama, pela última vez.  Até no meu último suspiro, ainda terá algo a me ensinar!



segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

 1637





CORPO E SENTIMENTO 

Mas afinal, do que são feitas as nossas lembranças?   Poderíamos afirmar que são recordações fiéis do que se passou conosco?  É preciso se pensar a respeito!

Lembramos não só do que presenciamos, mas sobretudo, nos lembramos de como nos sentimos.  Portanto, nem tudo que nos re_passa na memória, é do jeito que foi, de fato.

Estivemos presentes de corpo e de sentimento, nos momentos que nos foram especiais, agradáveis ou nem tanto.  Para nós, aconteceu exatamente assim, como nos lembramos.  Dessa forma, as lembranças são tecidas de recordação e divagação do nosso imaginário, que nos faz construir uma realidade pessoal, que se agrega ao fato em si.

Quando as lembranças nos vêm à tona, vêm carregadas de informações completas, e isso se dá durante um longo tempo.  São imagens que saltam em cores, sons, movimento e cheiros.  À medida que o tempo passa, percebemos que as imagens que sobem à superfície, começam a se desfazer pelas bordas, como se estraga o papel das velhas e raras fotos – suas beiradas ficam gastas.  É assim que as lembranças se apagam, aos poucos da memória.  As cenas das quais queremos nos lembrar, começam a ficar embaçadas e sem definição, do exterior em direção ao meio. Esse é o indício de que estão perdendo a nitidez.

Terminam, quase que desaparecendo por completo, se transformando num grande borrão.  Fica evidente a dúvida, de como as coisas aconteceram na realidade, porque a memória já não é mais a mesma; embora a emoção que as acompanhou, seja ainda bem viva.  Ah! a emoção, ela nunca mente, nem nos deixa enganar.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

1636



QUE NOITE!

 Acho que eu dormi na gaveta!  Espero a minha poeira passar

pelo buraco da ampulheta e na parte de baixo chegar.

Não posso ter pressa ..., mas que noite foi essa?!

Quem sabe o que ora desce, já seja o que se intumesce

e refaz-me como gente, devolvendo-me à forma, urgente!


quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

 1635




UM ATO DE FÉ

Num exercício de fé, eu expiro, porque sei que a natureza proverá.  Eu libero o ar usado, porque confio, que na sequência, meus pulmões receberão o oxigênio necessário.  O mesmo acontece com a nossa vida, é inútil tentar segurarmos nas mãos o que nunca se deixará reter.  Da mesma forma, é improvável agarrarmos algo, com as mãos cheias; tanto quanto é impossível, aspirarmos novos ares, com pulmões repletos de ar velho.



terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

 1634




BRAVURA E ÍMPETO

Criei coragem, e foi nessa madrugada insone.  Queimei as fotos, as cartas, os bilhetes, ou quase isso; porque na verdade, foram imagens e mensagens trocadas, que deletei, num ato de bravura e ímpeto.  Várias vezes, tentei em vão e repensando, eu desistia. 

Com a desistência, eu tinha sempre um lugar para voltar, intacto e real (ou quase)!  Agora, não tenho mais as palavras para serem relidas, nem as fotos, para reavivar a memória; muito menos a chance de ressentir as lembranças, pela revisitação visual.

Quando (e se) eu quiser voltar, não tenho mais para onde.  Assim, reabrindo as portas imaginárias das várias salas de recordações, uma a uma, me será preciso garimpar dentre os itens lá atulhados.   Espero que dessa forma, perdido o acesso rápido, seja mais fácil resistir, em dar uma espiadinha, um regresso, mesmo que por pouco tempo; porque o esforço será muito maior.   Só poderei contar com a minha vaga lembrança, que restou da antiga e fresca memória de antes. 

sábado, 3 de fevereiro de 2024

1633




CONFESSO

Espalho pranto seco e silencioso

pelos dias, noites, ruas e vielas.

Arrasto no espírito, certas sequelas

já que meu corpo, tão voluntarioso

insiste em te procurar e saber

por onde andas, como estás?

Para que me vejas, bem atrás(?)

ou de só, o mesmo caminho tanger(!)

um olhar, contigo cruzar(?)

receber um aceno, um sorriso!

Nessa hora, eu simulo um improviso

como se te encontrasse, por um acaso

como um simples transeunte!

Então, minha alegria eu extravaso!

Declaro, veementemente

que nenhum crime cometi

além de girar ao teu redor

e querer ser merecedor!

Sou um satélite em torno de ti

sempre quieto e obediente

visível ou na obscuridade

presente ou transparente

sonhando com a reciprocidade!



domingo, 28 de janeiro de 2024

 1632




UMA NOTA OU OUTRA 

Somos flores nascidas do teu jardim, com cores e formas diferenciadas.  Há algum tempo, já o deixaste; enquanto nós, por nossa vez, vicejamos em canteiros próprios, espargindo perfumes únicos, de diversas combinações, mas todas, lembrando uma ou outra nota de tua essência originária.


28 de janeiro - dia do aniversário de nossa mãe

arte  __  silke leffler

sábado, 20 de janeiro de 2024

 1631




UMA GRANDE MULHER 

Eu conheci muitos homens valorosos, mas de valor para além das posses e títulos.  Conheci muitas mulheres abençoadas, não pelas dádivas recebidas.  

O valor veio da retidão, honestidade e respeito no convívio com seus semelhantes.   A bênção, não era coisa dada, mas sim cultivada, apesar das perdas, fracassos e frustrações; como pérola forjada em ambiente hostil, feita de resiliência, coragem, fé e altruísmo.  Numa conquista alcançada, a despeito de todos os desafios inevitáveis da vida, sobrepujando as limitações - recebe o coroamento da existência.

Em especial, eu quero falar sobre uma mulher, cujo nome bem diz a que veio a este mundo – Amparo!   Hoje, chegou a vez dela, de ser amparada pela espiritualidade, ela que tanto amparou!  Receba os louros, os aplausos de uma vida vivida, distribuindo bênçãos de amizade, amor, companheirismo, solidariedade.  Uma pessoa gostosa no trato, impossível de não se amar!  Sempre com uma palavra de carinho, de aconchego, de esperança; porque na verdade suas palavras, sempre nasceram do seu grande coração, e agora se transformaram em luzes a iluminar a sua trajetória.

Hoje, me considero de certa forma, um pouco órfã e me despeço dela, grata, por seu caminho ter cruzado com o meu; por eu ter bebido, tantas vezes da sua fonte!   Só posso pensar num até breve!  Fique em paz!


sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

1630




APENAS UM ACORDE

A música é pano de fundo, marcando definitivamente, os momentos da nossa vida.  Alguns deles não quereríamos esquecer, e mesmo, quando parecem desaparecer da nossa memória, é ela - a música, quem os traz de volta em minúcias, íntegros de emoção e imagens claras.  E mesmo ainda, quando de fato, queremos esquecer, somos jogados contra as paredes das lembranças, com todos os seus pormenores, até de cheiros e gostos.  Ao ouvirmos seus primeiros acordes, os nervos acordam aptos a ressentirem, todas as emoções e sensações.

Mas ela também pode criar momentos, que nunca existiram, nossos desejos já tem em si a matéria prima para cria-los, e quando estes se alimentam da sutileza das notas que nos tocam a alma, condensamos lembranças, que acrescentadas à nossa memória, tornam mais do que reais para nós, esses instantes! Tantas vezes são um lugar de aconchego e prazer, que as nossas escolhas nos negaram!

Ah! ... a música eterniza, cria, faz renascer, castiga, encanta ... Imortaliza momentos plenos de sentimentos, não importando se foram vividos ou apenas imaginados, desenhados com muito cuidado, feitos de tecido sensível e ao mesmo tempo resistente, permanecem vívidos, para serem revisitados, a um simples acorde. 


1629



 A GRANDE VIDRAÇA

Estou de frente à uma vidraça enorme.  Minha curiosidade me faz querer saber, o que ela guarda do outro lado, mas o vidro só reflete o que há desse, mantendo o seu interior em segredo.  Só posso ver o que me rodeia.

Incontida no meu insatisfeito desejo de conhecer o que ela me oculta, encosto meu nariz na superfície lisa e fria, coloco minhas mãos em concha sobre meus olhos ... e como num passe de mágica, ou como, se ela aguardasse um movimento decisivo meu para desvendar-se ... consigo ver o que há por detrás da superfície, revelada espelhante, até então.  Vejo inúmeros degraus, pequenos, perfeitos, que podem me levar acima, em curvas, que se esgueiram à visão e se escondem, umas nas outras, provocando mais curiosidade. 

Subo um a um, com determinação e coragem, porque é preciso um certo esforço, para permanecer na escalada.  Sigo sem muito tempo de apreciar o que está ao lado, pois não posso me deter em cada degrau, tempo além do que necessito para pisá-lo.

Em certos intervalos existem platôs, onde é possível amenizar o ritmo da subida, e é justo nesses instantes, que aproveito para olhar para trás e visualizar todo o cenário, inclusive o trecho de antes da grande vidraça – para minha surpresa, ela não existe mais!

O trajeto à frente, ainda é de certa forma oculto, com trechos sinuosos e desconhecidos; bem diferente do caminho já percorrido, que se torna totalmente visível.

A vidraça é a divisa que nos mantém no presente, e é preciso uma maior acuidade visual para enxergarmos através dela.  Uma vez atravessada, descortinada por nós, ela se desfaz e seguimos ao encontro do futuro.  Nos instantes de pausa, é possível, constatarmos o passado trilhado por nós, como quem aprecia o feito de uma escalada perigosa, mas ao mesmo tempo, sente o prazer de uma conquista: superando o medo, a inércia e o incerto.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

 1628




EIS A QUESTÃO

Quem precisa ver para crer, é provável - nunca verá!  É preciso crer para poder ver, e não o inverso.  Têm coisas grandes, que nos escapam à visão limitada.  Têm coisas sutis, que a nossa vontade pode não ter a coragem de enxergar.


 

1627



TEMPO E ESPAÇO  ______________________________________

Minha mão direita repousa sobre teu peito, é como a seguras, junto à tua.  Face roçando face.  Sinto uma leve pressão nas minhas costas, é assim que me trazes para junto de ti.  A emoção faz minha outra mão suar, pousada sobre teu ombro e aos poucos, desliza relaxada pelo teu braço – conservando-nos unidos.

A música toca fora e dentro de nós, nossos passos no compasso, nas batidas e pausas, acertados pulsos e ritmo.  Voltamos e avançamos no tempo e no espaço, podemos estar nos três, simultaneamente.

Em algum momento, tu espalmas minha mão, bem em cima do teu coração, para mostrar que ele dança contente, como dançam nossos pés.