quinta-feira, 31 de maio de 2018

RE_EDIÇÃO __ Felicidades





A casa ... eu a deixarei de portas abertas!
Enfeitada e iluminada desde os degraus da entrada, ante-sala, sala ... corredores e demais espaços. 

Me servirei de luzes e velas!
Não haverá um só comodo às escuras ou um canto sombrio, em que se possa ficar perdido, nem esquecido.

Conservarei meus braços estendidos e abertos pra estreitar no peito, os amigos – ‘como devem ser mantidos – bem guardados'.   Sempre haverá lugar pra mais um!

Terá espaço pras crianças, animaizinhos, plantas e flores ... pra velhice ... 
até pra tristeza ... mas ela não se demorará por muito tempo!

Nenhum aniversário ficará sem ser cantado e comemorado, se não houver motivo nenhum pra celebrar – nós criaremos um!

Os cristais estarão disponíveis  pra tilintar e brindar...
E se um deles se quebrar ... terá sido no meio da festa ... muito melhor do que quebrar-se durante a limpeza da cristaleira!?

O ambiente será limpo e agradável ... sem neuroses!

Farei quitutes, tentarei novos pratos, aperfeiçoarei os que já são sucesso!
Tudo pra agradar a boca de quem me adoça a vida!

Minha mesa e eu,  estaremos sempre rodeadas de gente!

Isso são as 'felicidades' ... detalhes pequenos ... mas constantes!

Haverá música, farfalhar de roupas de festa, perfumes, amizade e alegria.  Quem não gostar de festas ... de gente ... que se incomode muito e vá morar em outro lugar –  procure uma cabana no meio da mata, que fique recluso, distante de tudo.


Nem as alcovas serão escuras ... porque o amor não teme as formas imperfeitas!                                        31/05/16

DOIS GATUNOS   __ 706



O vento e o tempo ... e não é nome de filme.

Têm dias em que o vento é o protagonista, pelos sons que emite (falas) e pela sua presença em cena (performance).

Sinto-o perpassar pelo meu corpo, como se este  fora uma peneira e eu nada vestisse. Tenho que fixar meus pés no chão, com toda a força, para que não me leve junto.

Quando o vento se esgueira pelos obstáculos, tentando passar pelos cantos, faz um redemoinho incômodo e desconcertante, pelo desconforto que causa.

Ao correr pelos espaços abertos, corredores estreitos - para ele e sua força descomunal - é obrigado a se comprimir e espremer, fazendo uivos e gemidos perturbadores, que se parecem com vozes humanas em desespero e lamento.

Acho que nesses dias envelheço, além da conta de um dia.  O vento seca a vida que existe em mim, mais depressa do que o tempo.  Me faz secar mais rápido, os lábios, pele, os olhos, enchendo-os de poeira. Tudo isso, sem ter nada de poético.

Irrita-me, que ele embarace meus cabelos e levante as minhas saias, leve para longe uma folha de papel que esteve na minha mão.

Prefiro os dias sem vento, apenas com uma leve brisa ... e quem não os prefere? 

As calmarias são boas e bonitas tanto em terra, quanto no mar.

O vento em sua fúria, pode fazer estragos.  Tenho medo dos meus ventos internos, da raiva com que irrompem das profundezas da minha alma.  Podem me levar junto com eles, a lugares que não sei se gostaria de ir.

Vento e tempo, são dois furtadores de vida, nos roubam o frescor e a juventude, causam a nós, um efeito semelhante a um latrocínio, a medida em que nos tomam algo e nos matam aos poucos.

Sem dúvida, há muitos outros ladrões, mas vamos deixar assim - os dois.  

O vento me faz literalmente sair do lugar onde estão os meus pés.  

O tempo faz com que eu não saia do lugar, através dos meus pés, porque é como uma esteira rolante onde estou parada, que se move na direção do futuro, a um outro lugar, sem que eu perceba que estou em movimento, involuntário mas efetivo.

Talvez o vento acelere ou potencialize o tempo.

Não sei qual é mais cruel!  Um é mais sutil, o outro mais contundente!

quarta-feira, 30 de maio de 2018

ATRAVESSANDO A PONTE   __ 705





A travessia é solitária. O vazio que está por baixo, apavora. É preciso respirar fundo e encouraçar o peito, para enfrentar o medo, de não se ver onde pisa.  Os caminhos se fazem aos poucos, são os nossos passos numa direção, que os fazem surgir. 

Como as boas portas, a ponte é estreita, imaginária e simbólica.  Nela só cabe a mim, um pé após o outro, com todo o cuidado, insistindo no caminho do meio, na linha fina do equilíbrio, com idênticas finas cordas laterais, como guia.  Um passo em falso, na certa, é menos um ou dois, na trajetória.  Parar, é que não se pode, equivale a estagnação - e uma ponte deve deixar fluir.

Deixar para trás o que ficou, dói.  Somos obrigados a nos despojar do que precisa ficar, deixar ficar o que não é mais nosso, porque já não somos mais a mesma pessoa.  Fingir que ainda somos, não funciona, não convence ao outro, nem a nós mesmos. 

Não se pode esperar por alguém, se é que esse alguém, deseja vir na mesma direção - terá que ser ao seu tempo. Sobre quem se recusa a fazer a travessia, então, nem se fala, é melhor manter a cabeça voltada para frente - olhar sempre em frente e os pés em movimento, são as únicas posturas possíveis.

terça-feira, 29 de maio de 2018

*Prosa e verso*


Recanto das Letras


Ismália

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...     

                                     Alphonsus de Guimaraens
O CAMINHO MAIS COMPRIDO   __ 704




Como pode, a boca falar que sim ... e o resto do corpo e dos modos, mostrar e provar que não?

Fez tudo o que podia, mais até, insistiu, encarnou  amélia, fridha, tentou, contemporizou.

Mesmo quando as mãos foram leves, a boca  se tornou dura, sempre houve dissonância ... e a mensagem que passaram, as mãos e boca: é que são extremos que não se entendem, são sons desafinados - que o caminho entre o coração e a razão está danificado, que a distância entre eles é a maior do mundo.

AMOR  E  MEDIDAS   __ 703



Quando amei, dei o melhor de mim, com a  medida que possuía na época - feito como eu sabia fazer.  

De todos que me amaram, também tomei o que me ofereceram - com a mesma medida.

Acredito, que o problema não seja falta de amor - mas suas diferentes unidades de medida.


segunda-feira, 28 de maio de 2018


LA BOCA EN SILENCIO   __ 702




Yo comencé a cantar, pero no conseguí terminar. 
Fui forzada a cerrar mis ojos y concentrarme en el que decía la letra, mientras intentaba mantener los músculos de los ojos, que comenzaron a temblar, apretando las lágrimas guardadas.  
Mi voz no salió, quedé sólo balbuciando las palabras, se cantara, lloraría también.
Canté con el corazón.


A UM SÓ TEMPO   __ 701


arte: agnes cecile


No dia 24 de maio, eu estava no 'Paraíso', e fazia a seguinte pergunta: qual a saída para a 23 de maio?   Dei ensejo a uma piada: "você está atrasada um dia!"  

Não estava.  Meu compromisso era dia 24, às 14 horas e 6 minutos, num endereço específico, tinha tempo de sobra para chegar lá, tempo suficiente para ir do paraíso ao inferno.

Bem, a resposta à minha pergunta, depois da piada que não podia ser perdida, tinha sido: "corredor à direita, no final, escada à direita, saída D."

Carregava um cadáver, desses que a gente carrega sem que ninguém saiba.  Eu o tinha arremessado bem longe, à parte mais funda de um lago.  Antes, tinha amarrado uma pedra nos seus pés, para que afundasse, e permanecesse submerso, longe das minhas vistas.

Mas cadáveres são chatos, reaparecem do nada, quando menos se quer, principalmente aqueles, aos quais negamos uma identificação.

Um cão farejador, pode desenterrar um, ou gases que se formam nas entranhas de um outro, fazem-no emergir do fundo, vindo à tona.

Cães e gazes, trazem de volta, velhos cadáveres, para que sejam catalogados, para que se coloque neles, uma etiqueta de identificação no dedão do pé.  Só assim terão o direto de serem guardados nas gavetas geladas.

domingo, 27 de maio de 2018





"Fui dormir umas vezes tão feliz,
que, se soubesse minha força,
levitava. Em outras, tanta foi a
tristeza que fiz versos."




"Sofro de avessos:
é quando os sentimentos e alma
são grandes e intensos
não cabem dentro do corpo
ficam assim completamente expostos."


_____ Zack Magiesi
Mulheres Maduras




“Tenho encontrado muitas pessoas, porém não encontro gente. Há um vazio dentro de cada um, um processo de fechamento em sentimentos. Encontro sorrisos, porém daqueles que expõem apenas os dentes, mas não a alma. Encontro verdadeiras tocaias, e não corações, reservas insistentes da solidão.”
____ Cora Coralina

“Não culpes ninguém”, o belo poema de Pablo Neruda para refletir




As pessoas que culpam os outros geralmente tentam esconder seus sentimentos de desamparo. Se elas não culparem ninguém, estarão admitindo que não estão no controle e que não há nada que possam fazer.
Ao culpar os outros, a pessoa desamparada assume a posição do acusador e se sente mais no controle.
Em algumas situações, é aceitável culpar os outros se eles forem realmente responsáveis ​​e se culpá-los, fizer evitar erros semelhantes no futuro, mas na maioria dos casos você deve aprender como assumir responsabilidade por suas ações e estar no controle de sua vida para que você Não culpe pessoas inocentes.
É isso que Neruda nos diz de forma poética nesse poema que é um dos mais lúcidos e belos conselhos que o poeta nos deixou.
Não Culpes Ninguém | Pablo Neruda
“Não te culpes por nada, nunca te queixes de nada, nem de ninguém, porque fundamentalmente tu tens feito tua vida.
Aceita a responsabilidade de edificar a ti mesmo e o valor de acusar-te no fracasso para voltar a começar; corrigindo-te,
o triunfo do verdadeiro homem emerge das cinzas do erro.
Nunca te queixes do meio ou dos que te rodeiam,
há em teu meio, aqueles que souberam vencer, as circunstâncias
são boas ou más segundo a vontade ou fortaleza de teu coração.
Aprende a converter toda situação difícil em uma arma para brigar.
Não te queixes de tua pobreza, ou de tua sorte,
enfrenta com valor e aceita que de um outra maneira,
tudo dependerá de ti; não te amargures com teu próprio fracasso.
Nem culpes a ninguém por isso, aceita agora ou seguirás
justificando-te como um menino, relembra que qualquer momento é bom para começar e que nenhum é tão terrível para claudicar.
Pare já de enganar-se, és a causa de ti mesmo,
de tua necessidade, de tua dor, de teu fracasso.
Se, tu tens sido o ignorante, o irresponsável, tu, unicamente tu, ninguém pode haver feito por ti.
Não esqueças que a causa de teu presente é teu passado,
como a causa de teu futuro é teu presente.
Aprende com os fortes, os audazes, imita aos enérgicos,
aos vencedores, aos que não aceitam situações,
aos que venceram apesar de tudo.
Pensa menos em teus problemas e mais em teu trabalho
e teus problemas sem alimento morrerão.
Aprende a nascer desde a dor e a ser maior,
que o maior dos obstáculos.
Veja-te no espelho de ti mesmo.
Começa a ser sincero contigo mesmo. Reconhecendo-te pelo teu valor, pela tua vontade e por tua fragilidade para justificar-te.
Recolhe-te dentro de ti mesmo, mais livre e forte,
e deixarás de ser um boneco das circunstâncias,
porque tu mesmo és teu próprio destino.
Levanta-te olha as manhãs e respira a luz do amanhecer.
Tua és parte dá força dá vida.
Agora desperta, caminha, luta.
Decide-te e triunfarás na vida.
Nunca penses na sorte,
porque a sorte é o pretexto dos fracassados.”

sábado, 26 de maio de 2018


SÓLO YO SÉ   __ 700


arte: alyssa monks


Dejé dibujos en el vidrio. El vapor se prendió en la superficie helada e hizo una pantalla en blanco, para que yo hiciera unos contornos. Creo que diseñé su rostro, de perfil, pero sólo yo sé. Él inmediatamente va a sumir.


TU, ELA E EU   __ 699


Arte Romano Imágenes


Poderias enumerar
porquês, de um a mil ...
Nenhum deles pueril
ou inédito, a acrescentar
que ela já não soubesse!
Estarias, como que em prece
de joelhos, aos pés 
de estátua empedernida
e seus sentimentos cativos!
Próximo aos igarapés
da mata escondida
tu, em pedidos cumulativos
verias: ela fria e impávida
sem nenhum respeito
negar teu direito
com olhar de desdém
de quem não ama ninguém!

igarapé: riacho que nasce na mata e deságua em rio.

sexta-feira, 25 de maio de 2018

PSI __ 84__ MINHAS CONSIDERAÇÕES


Ferida primal: marcas latentes da infância que sobrevivem no presente





A ferida primal ou primária é um trauma não resolvido. Ele exemplifica e aponta a vulnerabilidade do apego, a vulnerabilidade desse laço essencial entre a criança e seus pais; é a traição de necessidades emocionais não satisfeitas, não atendidas. Essa dor, originada em idades precoces e não resolvida, é algo que tentamos anestesiar na idade adulta, mas que de alguma forma continua a nos condicionar.
Um dos termos mais comuns do mundo da psicologia e, em especial, a partir da abordagem da psicanálise, é a figura da ferida, assim como do trauma. Freud nos exemplificava que essas lesões psíquicas vão de fora para dentro. Elas ocorrem em nosso ambiente mais próximo, especialmente na nossa infância. Assim, e longe de se dissolver com o tempo, essa ferida original sobrevive, permanece latente e entra em nosso ser criando camadas e mais camadas para gravitar em qualquer área da nossa vida…

“Não há extensão maior do que a minha ferida, aquela que ninguém vê”.
-Miguel Hernández-



Se Sigmund Freud, assim como sua filha Anna Freud, nos revelou pela primeira vez a transcendência que as primeiras experiências têm no desenvolvimento da nossa personalidade, nos anos 90 foi publicado um livro decisivo em relação a esse mesmo tema. “Primal Wound” ou “A Ferida Primal” colocou sobre a mesa uma realidade que ia muito mais além. Neste trabalho foi explicado o trauma silencioso, invisível, mas permanente, vivido pelas crianças adotadas.
Nancy Verrier, autora do livro, destacou as ideias-chave sobre o vínculo desfeito, o afeto perinatal infligido ou as feridas geralmente inconscientes que o ser humano tende a arrastar em sua maturidade como resultado de uma infância habitada pelo vazio.

O que é a ferida primal?

O ser humano tem uma necessidade que vai além do alimento. Quando uma criança chega ao mundo, ela precisa, acima de tudo, se sentir protegida, envolta de afeto e sustentada pelo carinho. O amor nos coloca no mundo e nos nutre. O amor ajuda a nos desenvolvermos, a crescermos com segurança em um ambiente empático, onde nós podemos explorar o mundo sabendo que somos importantes para alguém.
Assim, quando um psicólogo ou terapeuta recebe seu paciente, ele também tentará criar um ambiente onde a empatia e a proximidade sejam sempre patentes e palpáveis. As pessoas precisam desse tipo de nutrientes, porque se não os percebemos, se não os vemos ou sentimos, nosso cérebro reage quase instantaneamente. Aparecem a suspeita, o medo e a tensão.
É exatamente isso que uma criança experimenta quando não recebe um apego seguro. A ferida primária surge quando os pais não são acessíveis emocional, psíquica e/ou fisicamente. Pouco a pouco a mente desse bebê, dessa criança de poucos anos, é invadida por ansiedade, fome, desejo emocional, vazio, solidão, perda e falta de proteção.
Podemos entender a ferida primal quase como um sacrilégio evolutivo. Este processo de “hominização” pelo qual todo ser humano passa parte, em primeiro lugar, de uma troca de afeto sólido e de uma constante proximidade entre mãe e filho. Não podemos esquecer que um bebê vem ao mundo com um cérebro ainda imaturo, e que precisa dessa pele e desse apego seguro para continuar crescendo e dar forma a uma exogestação para promover a continuidade de seu desenvolvimento.
Se alguma coisa falha neste processo, se acontece alguma coisa nos nossos primeiros anos de vida, surge uma fratura invisível e profunda, uma lesão que ninguém vê. A mesma que (possivelmente) nos invalidará no futuro em vários aspectos da nossa vida. Vamos aprofundar a seguir.

Efeitos da ferida primal

Existe um livro muito interessante que é considerado o manual de referência no estudo do apego. Trata-se do Handbook of Attachment, dos psicólogos Jude Cassidy e Phillip R. Shaver. Neste trabalho, somos lembrados de que o próprio fim do ser humano é a autorrealização. Nosso objetivo é transcender, promover a segurança para favorecer nosso crescimento pessoal e emocional, desfrutando assim uma vida plena conosco e com os outros.
Uma das condições mais importantes para que isso ocorra é ter disposto em nossos primeiros anos de um apego seguro, maduro, próximo e intuitivo com nossas necessidades. Agora, se isso não ocorrer, surge a ferida primal e, com ela, os seguintes efeitos:
  • Insegurança e autoestima baixa.
  • Impulsividade, má gestão emocional.
  • Maior risco de sofrer diversos transtornos psicológicos.
  • Dificuldade para estabelecer relacionamentos afetivos sólidos.
  • A pessoa desenvolve uma “personalidade de sobrevivência”. Ela tenta mostrar autonomia e segurança, mas o vazio persiste e é comum passar épocas em que precisa de isolamento e solidão, e momentos em que deseja proximidade, ainda que seja prejudicial ou falsa.


Como curar a nossa ferida primal

O mais adequado nestes casos é solicitar ajuda profissional. Nos últimos anos, terapias como a EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento por meio dos Movimentos Oculares) estão se tornando mais importantes. É uma técnica em que diferentes tipos de estimulação e processamento de informação são combinados para que as pessoas tragam à luz experiências traumáticas, feridas na infância para falar sobre elas, reconhecê-las e gerenciá-las melhor.

Da mesma forma, vale a pena enunciar também essas estratégias básicas que costumam ser usadas para enfrentar e curar a nossa ferida primal. Seriam as seguintes:

  • Tomar consciência de nossas emoções latentes e lhes dar nomes.
  • Dizer em voz alta as nossas necessidades não satisfeitas (afeto, apoio, falta de proteção, proximidade empática…) Devemos “legitimizar” essas necessidades, e não as reprimir.
  • Refletir sobre a solidão que sentimos na infância. Faremos isso sem medo, sem raiva ou vergonha. Há quem evite pensar no vazio experimentado durante a infância, quem prefere não olhar para aqueles anos de sofrimento porque sente dor e desconforto. Devemos trazer esse eu ferido para a luz, aquela parte de nós mesmos ainda cheia de raiva porque não sentiu afeto e segurança suficientes.
  • Entenda que nada foi responsabilidade sua. A vítima não tem culpa de nada.
  • Permita-se liberar sua tristeza, suas emoções internas. Desabafe.
  • Comprometa-se consigo mesmo na mudança, seja capaz de se transformar, de se responsabilizar por uma mudança em direção ao bem-estar interior.
Por último, os especialistas no gerenciamento e no enfrentamento da ferida primal e trauma nos recomendam perdoar. Conceder o perdão a nossos progenitores não os exime da culpa, mas permite que nós nos libertemos de suas figuras. É aceitar o sucedido, é assumir a realidade de tudo o que sofremos, mas ser capaz de oferecer um perdão que nos permita cortar o laço da dor para avançar muito mais rápido. Livres de dor, de raiva e das recordações do passado.
Vamos pensar nisso. O tema da ferida primal suscita sem dúvida um grande interesse e vale a pena compreender essa complexa realidade psicológica.



84__ MINHAS CONSIDERAÇÕES


 Gostaria de ressaltar alguns pontos e fazer um breve comentário a respeito de uma maneira geral.

"A ferida primal ou primária é um trauma não resolvido...
O ser humano tem uma necessidade que vai além do alimento...
"A ferida primária surge quando os pais não são acessíveis emocional, psíquica e/ou fisicamente...
 Pouco a pouco a mente desse bebê, dessa criança de poucos anos, é invadida por ansiedade, fome, desejo emocional, vazio, solidão, perda e falta de proteção...
Não podemos esquecer que um bebê vem ao mundo com um cérebro ainda imaturo, e que precisa dessa pele e desse apego seguro para continuar crescendo e dar forma a uma exogestação para promover a continuidade de seu desenvolvimento...
Se alguma coisa falha neste processo, se acontece alguma coisa nos nossos primeiros anos de vida, surge uma fratura invisível e profunda, uma lesão que ninguém vê. A mesma que (possivelmente) nos invalidará no futuro em vários aspectos da nossa vida. Vamos aprofundar a seguir...
somos lembrados de que o próprio fim do ser humano é a autorrealização...
os especialistas no gerenciamento e no enfrentamento da ferida primal e trauma nos recomendam perdoar... 
ser capaz de oferecer um perdão que nos permita cortar o laço da dor para avançar muito mais rápido. Livres de dor, de raiva e das recordações do passado..."

Os traumas não resolvidos que trazemos da infância,  são resultado das nossas necessidades não atendidas, em relação a não acessibilidade dos nossos pais, por várias razões.
O cérebro imaturo do bebê, necessita do contato pele com pele, de segurança, para que possa se desenvolver até atingir sua plenitude - a exogestação: crescimento físico e funcional.
Falhas nesse processo de crescimento e maturação, podem acarretar uma má gestão emocional no indivíduo adulto, com descontrole das emoções e sentimentos, dificuldade nos relacionamentos de todo tipo, baixa autoestima, vazio existencial, precariedade na autonomia pessoal, inclusive transtornos psicológicos e vícios.
Não podemos nos esquecer de um detalhe, os pais são adultos que carregam traumas da infância, nem sempre conscientes.
Prefiro o termo responsabilidade, em lugar de culpa, quanto ao que ficou a desejar, nas atitudes dos pais com relação aos filhos, no sentido de proporcionar-lhes os '4 AS':
- atenção (saber ouvir a criança)  
- apreciação (quanto às suas qualidades) 
- afeição (cuidados necessários) 
- aceitação (sem julgamento ou crítica).