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PASSADO IMPERFEITO + FUTURO MAIS-QUE-PERFEITO
= PRESENTE LIQUEFEITO
12/09/19
A sensação de incompletude é constante. Nunca sei o que 'precisaria saber', não faço o que 'deveria fazer', nem tenho o que 'poderia ter'.
Essa sensação se resume numa espécie de futuro do passado - que me remete automaticamente ao um passado imperfeito e insuficiente; faça eu, o melhor que puder - ainda não será o bastante! Vou me fazer entender.
'Precisaria saber', ou melhor dizendo, devo considerar: se eu pudesse saber. O fato é que, nada muda - o que eu não pude saber!
'Deveria fazer', o correto: se tivesse podido fazer, de fato: eu não pude fazer!
'Poderia ter' ... igual a se pudesse ter. Eu não pude ter!
O que adianta revolver o passado? Enquanto isso, empurro o meu presente para o futuro, não me dou tempo de sentir o momento atual. Espera-se que, lá na frente eu saiba, faça e tenha tudo aquilo que devia ter sabido, feito e tido ... ontem - porque não existe hoje. O presente foi engolido vivo, pela inadequação do passado e pela ganância do futuro, muito, muito mais que ansioso. O passado devendo ser consertado, ainda no presente - que coisa mais maluca!
Sei o que preciso saber. Faço o que devo fazer e tenho o que posso ter - mas mesmo assim - sou sugada por um mundo aquoso, onde fico submersa e em movimentos quase que involuntários, de um lado a outro. Tenho a terrível sensação de que estou envolta num tipo de placenta (em alguns momentos creio até, que chego a levar um dedo à boca), mas não me sinto confortável como um feto se sentiria. Tenho meus pulmões invadidos pelo ar líquido, que dói ao respirar, dando-me a percepção de afogamento, embora nunca me afogue de fato.
A todo instante, devo saber para que serve um determinado objeto, depois de tê-lo conhecido há 60 anos, com uma outra finalidade. Não me é suficiente conhecer a existência de um crime, sem conhecer-lhe os seus mínimos detalhes sórdidos. Já não sei o que fazer com tanta informação, não tenho mais onde pendurá-las, me faltam cabides, armários, gavetas. Forçosamente, para que entre tanta coisa nova e muitas vezes inútil, acabo por jogar fora outras tantas, que em algum momento, sentirei a falta.
É como se fosse preciso: eu pedir licença para poder ser eu mesma, justificar as minhas atitudes e desculpar-me por não corresponder ao que esperam de mim. É com muita frequência, que sou levada a sentir vergonha do que 'estou', ou de quem eu 'sou' de verdade.
Todo esse dinamismo é muito ingrato, além de desafiar o próprio tempo, desafia a minha identidade, integridade e sanidade, na medida em que, desconsidera minha intenção, meu esforço, resultados, conquistas e sentimentos.
futuro do passado (pretérito) - precisaria, deveria, poderia [ideia de pretensão]
passado (pretérito) imperfeito - se eu pudesse, se tivesse [fato hipotético]
preciso, devo e posso - são atos assertivos
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