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DESERTOS E MATAS
Atravessei noites insones e os áridos desertos. Conheci as dores silenciosas e os medos medonhos. Juntei os segundos, minutos e horas, passei através deles um fio e fiz um colar - porque era só o que eu podia fazer. Procurei abrigo durante as tempestades de areia, e pude sentir cada grão riscando minha pele. Ouvi o grito desesperado das dores sem voz. Curvei-me às sombras dos medos ferozes.
Nos entremeios, tive manhãs e dias radiantes; visitei matas e deliciei-me com seus encantos e brisas. Escutei as batidas potentes do meu peito, nos momentos de alegria. Algumas vezes, me fiz muito maior do que os medos medonhos, e eles fugiram, a ganir, como bichinhos medrosos.
Aprendi sobre gratidão, a cada manhã brilhante e a cada nova oportunidade. Não conheci todas as dores, felizmente, só algumas; como também não venci todos os medos. Ainda tenho noites insones e longas, lugares ermos para transpor. Ameaçam-me tempestades secas como as de areia, outras de águas colossais. Mas permaneço na confiança de que, quem me criou não me abandona.