segunda-feira, 29 de julho de 2019

48 __ PÓ E SILENCIO __ 29/07/15



Fora sempre pessoa de língua muito eloquente.  Portadora de uma transparência quase indecente, capaz de fazer virar do avesso a alma e de não deixar senão uma folha de parreira a cobrir suas vergonhas. 

Aos ouvidos moucos, a assertividade é um coçador que incomoda. Aos olhos fechados, desenhar é desnecessário.  Às feridas purulentas, as moscas são indesejáveis...

Confesso que, para minha eloquência, qualquer sentido que a tivesse captado, seria lícito. Eu teria obtido êxito!  Mas eu não me dirigi à massa cinzenta, que mora no sótão isolado e sombrio.  Entulhado, onde se assenta em seu trono, de onde delega poderes e comanda a casa.

Tentei o tecido vermelho irrigado, de muitas portas, que ao se expandir, recolhe, reconforta e retém junto de si.  Esse cômodo quente, bem no meio da casa, muito próximo da cozinha, do quarto de dormir.  De muita circulação e aconchego, que possui uma lareira sempre acesa.  Foi em vão!

Estamos eu e minha eloquência, ou ela e eu, cansados de bater à porta dessa casa sem jardim ...  Nossas mãos estão doídas de tanto insistir sobre a madeira rústica e maciça, sem tinta nenhuma. Está trancada por dentro ... E ninguém nos atende ou nos ouve!

Batemos há muito!  Lá dentro há apenas móveis cobertos de panos brancos, cheios de pó e silêncio. 

Desistimos.  Eu desisto, é só silêncio!  Também, nem quero mais entrar! Perdi o interesse, porque ninguém vive lá.  A casa é vazia!                                        

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