A cada passo que eu dava naquela rua encharcada e fria, eu sentia meu corpo congelar de baixo para cima. A pele arroxeada, os tendões e músculos perdendo seu calor, o sangue circulando nas veias com dificuldade, levando o frio até os ossos, mas eu sabia, que mesmo depois de congelados eu poderia sabê-los úmidos.
Um após outro, sentia que os pés que pisavam a rua, não eram mais meus, que quase não me obedeciam, faziam um barulho oco na minha cabeça, cada vez que batiam no chão.
Ao contrário dos meus pés, as mãos ainda tinham alguma sensibilidade, jurava que havia objetos pontiagudos entre as unhas e a carne dos dedos, embora as mantivesse próximas ao corpo. Chegava até a pensar no inferno e suas labaredas.
A roupa era pouca, a fome era muita e a pressa era tanta de chegar a um abrigo, que quase me esquecia do fato de que - os pés que pisavam o chão não eram meus.
A cortina de fumaça descia sobre todos. O ar rasgava as mucosas do nariz, da garganta, tentando chegar aos pulmões, em pequenos cristais, causando dor e me fazendo respirar bem curto.
O dia era escuro, a noite jogaria a qualquer instante seu manto pesado sobre tudo, até que só restasse uma única cor, na natureza e em mim.
arte | jamie heiden
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