A lua espreita o sol, oculta pelas dobras das nuvens. Ela quer saber quando poderá brilhar, não como ele - mas como si mesma.
Se acaso, ele se retirar mais cedo, ela assumirá a majestade, não tão ostensiva quanto a dele, mas com a sua, mais requintada e mais discreta. Sabe que, mesmo debaixo do véu de escuridão, há coisas a serem guardadas, verdadeiras riquezas ainda não descobertas, que secretas devem permanecer. Guardá-las, é o que ela faz com muita graça.
A lua sabe, que o sol, ilumina a tudo e a tudo mostra, sabe muito bem também, que é a noite, quem guarda as respostas das perguntas trazidas com a luz intensa, ela é a guardiã, que deve velar pelos mistérios do novo e próximo dia.
Se é de dia, que tudo se vê, com toda a clareza - é na noite, que algo se revela, num recanto de refazimento, silêncio e introspecção, sob a forma de sonho, de inspiração ou de clara visão - em chaves e códigos, para os enigmas, surgidos da luz dos dias anteriores. Porque a lua é feita das mesmas substâncias, de que nós e a terra somos feitos - ela sim, é capaz de saber como nos sentimos.
Afinal, de tudo o que nos é revelado à luz do dia, foi durante a noite, que se permitiu, fosse retirada uma parte do véu.
E assim vamos: as noites nos trazendo as respostas dos dias, os dias nos fazendo outras perguntas, aos poucos, os segredos nos vão sendo revelados.
arte | christian schloe
Vemos aquilo que estamos prontos para ver. Há muita coisa, que ainda se conserva oculta. Considere a noite, como sendo a sombra de nossa personalidade; o dia, como a luz, a parte conhecida, com a qual conseguimos lidar.
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