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O VIOLÃO E O TRAPÉZIO
Março se foi, levando junto com suas águas, o que não mais servia. Março e sua promessa - isso já deu canção.
Nas grandes enchentes, o aguaceiro revolve o fundo, remexendo o que estava quieto e o leva à superfície.
A exemplo das inundações, depois que passam as águas, deixam suas marcas nos muros; nas grades, os resquícios agarrados a elas. Tudo o que não foi levado com a água, num lembrete de sua passagem, nos avisa de que é preciso uma urgente limpeza sincera, gastando água limpa dessa vez, para dar fim a sujeira encalhada no seco, não levada pela água suja.
Quase o que se deu com meu violão, mas não exatamente o mesmo. Olhei para ele, e vi nas suas cordas, alguns resquícios do aguaceiro que por elas passou, dependurados, resistentes à força das águas, esperneantes e vivos, com seus membros musculosos e fortes de circenses, se recusaram em ir embora, permanecem presos às cordas, como se se prendessem ao trapézio.
Estes, os levarei comigo, abril adentro, até um novo março.
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