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SAL E AÇÚCAR
Já faz algum tempo que as minhas águas se tornaram mais doces. É certo, que querem compensar o amargor que as invadiu, que invadiu a vida, então elas me defenderam como puderam – ficaram mais doces.
Enquanto houve esperança de dias melhores, de menos amargores – elas fluíram de cima a baixo, bem silenciosas, como um rio nascente, fino e tranquilo.
E eu me lembro das aulas de geografia, dos mapas que mostravam as bacias hidrográficas, seus riscos grossos e finos, representando os rios que faziam parte delas. Me custava acreditar, que eles sempre nasciam em locais mais altos e que desciam em direção aos vales e plantações. Me parecia que eles podiam subir, porque no mapa, eles iam pra todos os lados, nem sempre pra parte de baixo.
Pois é, eu estava enganada, a minha inocência não me ajudava, eu não sabia que tinha que considerá-lo em 3 D, colocá-lo de pé, na minha frente, pra entender o que acontecia de verdade. Ainda não existiam os óculos! Eles nunca subiam. Eles corriam em direção as partes mais baixas do relevo e acabavam por se tornarem salgados, ao se fundirem à imensidão de sal. O fim deles era desaparecer, porque uma vez no mar, não se via mais riscos grossos ou finos.
Eu também corro em direção a algum lugar ... e não é o mar! Sou mais doce que um rio, tenho literalmente, açúcar demais em mim, nas minhas águas, mas nem por isso vou adoçar o que quer que seja.
17/04/17
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