sexta-feira, 12 de abril de 2019

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AS PALAVRAS E A ÁGUA

Sinto uma coisa na garganta, uma pedra, um inchaço incômodo, por algo que está lá parado.  Sem dúvida, são coisas que não pude dizer - se endureceram e não saíram.  Talvez, serem ditas, tenha sido dispensável, pois morreriam em terra, onde forçosamente cairiam.

Ai de mim, se as palavras não faladas, parassem na minha garganta, poderiam sufocar-me, antes mesmo de qualquer outro efeito.   Sem poderem ser expressadas de alguma forma - porque elas exigem isso - se não ditas, ao menos escritas.  As mãos funcionam sempre, à caneta e papel, ou no teclado, vomitam a pedra e todas as secreções que ela me causou.  

Agora, outros saberão, da existência da pedra.  Era coisa grande e dolorosa demais, para guardar comigo.  Pedras, quem não as tem?  Engolir é que não podemos, se o estrago na garganta já é grande, imagine nos intestinos, o que não nos causariam?  Precisamos arranjar um jeito de implodi-las, antes que nos façam um mal maior.

Corrijo a minha postura, respiro bem fundo, engulo um generoso gole de água, que a tudo lava e limpa. Deixo que se vá, toda a sensação de desconforto.  Sinto-me bem melhor.  De uma forma ou outra - eu disse!

12/04/19

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