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SENTIMENTO SEM FRONTEIRAS

Inspirei com minhas narinas humanas, todo o ar que pude, fundo e longamente. Botei a minha consciência no trajeto que ele fazia e fui seguindo o caminho feito por ele, corpo adentro.  Eu senti o cheiro de terra molhada, do orvalho da manhã, do sereno da noite e da poeira das estrelas.

O mundo todo cabia dentro de mim; muito mais do que os cheiros, cabiam também os gostos, as formas, cores, sons e até aqueles que desconheço ainda, encontravam lugar, em algum recanto parecido, com cada um dos átomos, de que são feitos, todos os tipos de matérias.

Dentro de mim havia espaço, um literal buraco branco, onde tudo ao que aspirava, encontrava ressonância, com o que já lá existia.  Ao mesmo tempo, passava por mim, através de mim, sem necessariamente sair de mim.

É difícil de explicar, o que talvez, não se possa explicar pela razão, porque ela não chega onde o sentimento pode chegar; para sentir é preciso adormecer a razão.

Sentimento é algo que não se tolhe, não se evita, não existem barreiras que impeçam-no de fluir, por água, terra ou ar, fogo, tempo ou reino, sobretudo quando tudo mora dentro, quando sou tudo isso.  

Dessa vez, o pensamento foi levado pelo ar, de carona, até as paragens mais remotas do meu ser; e para além delas, as transpassou, sem que com isso eu perdesse sequer uma pequena porção do que ele continha.

Senti-me irmanada a toda criação, desde a rocha, até aos seres que habitam o mesmo reino que eu; contida e contendo, todo tipo de vida ou substância; de tudo que está fora, mas que também carrego dentro.

Estou certa, de ter vislumbrado, de leve e apenas pelo sentimento, com o meu terceiro olho - uma pontinha do reino de Deus, nesse meu fungar profundo.

Tenho muito claro na memória, que foi quase, como ter uma 'experiência fora do corpo', sem arredar um só milímetro dele. Ao me dar conta do ocorrido, estava no mesmo lugar, onde estivera, sentada e imóvel, o tempo todo.