domingo, 7 de abril de 2019

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PAPO DE DOIDO 



Há palavras que nos engolem de uma tal forma, que já não sabemos mais onde termina nossa individualidade e começa 'a coisa' - a qual nos tornamos, sob sua influência.


Vou tentar explicar.  Hoje, fui fortemente influenciada pela palavra 'vaivéns', terminei por me ver transformada nela, a palavra em si, em letras maiúsculas e grossas, garrafais.  Uma cobra de duas cabeças, uma em cada extremidade, sem rabo ou cauda, capaz de andar para os dois lados.  Pude até sentir, as minhas células humanas, com muitas membranas vibrando - enquanto  eu era as letras que formavam a palavra.  Tinha assumido a sua forma escrita, e à ela tinha cedido as minhas propriedades vitais.

Isso é papo de doido!

Foi isso que aconteceu, eu alterei temporariamente a minha forma, sujeitando-me à ideia, dessa vez sem grande prejuízo para meu equilíbrio físico e emocional, pois com a mesma rapidez e facilidade com que me transformei nela, eu retornei à minha forma normal.

Dessa vez, foi assim.  Em outras, eu me permito passar por metamorfoses não tão agradáveis, que chegam a ser danosas à minha saúde, deixando-me com uma sensação de que alguma coisa pode ter alterado o meu dna.

Eu fico a pensar: a palavra em si, é fria, sou eu  que empresto a ela, uma emoção que é minha.  É nesse momento, que eu me deixo ser deglutida, goela abaixo, ou eu que a engulo, não sei.  Tanto faz, de qualquer maneira, minha identidade, já está ameaçada - como uma mono-ideia, que me arrebata.  Num primeiro olhar, é o que me ocorre.  Eu percebo que, ao retirar a minha emoção, ela volta a ser fria e vazia como antes, uma simples palavra - um conjunto de letras.

Eu me faço a pergunta: a quanto de passividade de minha parte, devo responder!?  Porque nenhum processo desse tipo se dá à minha revelia.

Quanto a questão sobre:  'quem engole quem?' ... não cheguei a conclusão alguma.

07/04/18

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