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UM OLHAR SOBRE O COMPORTAMENTO HUMANO
DENTRO E FORA
As pessoas em geral, usam seu órgão de contato – a pele – pra comunicar visualmente - as tatuagens que já estão nas suas almas há muito tempo. Os desenhos representam o que já está fortemente talhado dentro.
Alguns desenhos podem demonstrar o amor sentido por uma pessoa, animais, por uma religião, por símbolos ... Outras são a representação de tudo aquilo que gostam de ostentar, chamativo ou sutil - às vezes bizarro ou não, dependendo do ponto de vista - mas que querem externar em seus corpos, pra que seja visto, como uma bandeira ou uma obra de arte, ou talvez por nenhuma dessas razões. Simplesmente, se tatuam. Mostram, corajosamente, o que lhes vai por dentro.
Existem tatuagens que cobrem defeitos da pele, umas que encobrem outras, das quais nos enjoamos e não queremos mais, outras ainda feitas por pura convicção.
Todos nós somos tatuados. Podemos trazer a pele intacta, porém debaixo dela, existem tecidos fibrosos que se formaram ao longo de cortes muito profundos - as marcas que no começo, até podiam parecer bonitas no papel, no esboço que nos foi mostrado, mas que depois de entalhadas - sangram, infeccionam e não cicatrizam.
São essas as que doem mais, porque as feitas na pele em algum momento param de incomodar, já as que estão ‘dentro’, são muito mais difíceis de tratar. Podem viver lá, nos lembrando a todo instante de que elas existem, mas ninguém saberá.
Tatuagens, são marcas definitivas que trazemos - quer elas sejam vistas ou não.
‘Tatuagem’
Chico Buarque
Quero ficar no teu corpo
Feito tatuagem
Que é pra te dar coragem
Pra seguir viagem
Quando a noite vem
E também pra me perpetuar
Em tua escrava
Que você pega, esfrega
Nega, mas não lava
Quero brincar no teu corpo
Feito bailarina
Que logo se alucina
Salta e te ilumina
Quando a noite vem
E nos músculos exaustos
Do teu braço
Repousar frouxa, murcha, farta,
Morta de cansaço
Quero pesar feito cruz
Nas tuas costas
Que te retalha em postas
Mas no fundo gostas
Quando a noite vem
Quero ser a cicatriz
Risonha e corrosiva
Marcada a frio
Ferro e fogo
Em carne viva
Corações de mãe, arpões
Sereias e serpentes
Que te rabiscam
O corpo todo
Mas não sentes
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