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ÁGUAS MÁS
Estou certa, de que não é a primeira vez, nem será a última, que me refiro ao fato, de que tudo o que escrevo, leva parte do meu d.n.a., uma particularidade minha desvendada, uma nuance pincelada da verdadeira cor da minha alma.
Não é preciso conhecer uma pessoa, ao vivo, para saber como ela pensa, ou como ela sente, porque cedo ou tarde, por mais enfeite que use, quem escreve, sempre trai a si mesmo. Tentando manter escondido, acaba por revelar o que não deseja, e de certa forma - surpreende-se a si mesmo, em primeira instância, com o resultado final. Quem escreve, tem o poder de conduzir o olhar de quem lê, para algum ponto em específico, remetendo-o a um foco em particular, mas sobretudo, falando muito mais sobre a sombra, do que propriamente, sobre o ponto ao qual projeta luz.
Eu lhes digo, que no fundo de cada 'ai' (em cada partilha minha, em cada fato descortinado), existe um 'dodói', o que faz com que cada ai, se torne genuíno, legítimo, verdadeiro; afirmado e reafirmado aqui, pela minha redundância.
Acabo por colocar-me numa vitrine, à mostra, sujeita à apreciação e julgamento. Por favor, apreciem ... mas quanto ao julgamento, não se apressem em fazê-lo.
Algumas vezes, até cheguei a pensar, que deveria ter vivido à época do romantismo - ideia que logo depois abandono, para voltar ao meu tempo real, pois a liberdade de expressão que reivindico, só é possível nos dias de hoje. Posso através das palavras, emitir gritos, ainda que as escreva silenciosamente. Posso usar de linguagem branda ou taxativa e falar sobre qualquer assunto.
"Em cada conto, um ponto" ... e em cada ponto, sempre há um pouco de sangue, vertido pela transparência despudorada, com um tanto de coragem. Nada do que eu revelo, através da escrita, deixa de estar inscrito, muito antes, na minha pele, sob as camadas mais profundas de sensibilidade.
Eu seria uma mentirosa descarada, se dissesse o contrário: de que não temo os efeitos dessas águas más, que elas não me afetam profundamente, muito mais do que suponho e quero. Sei que devo aprender a conviver com elas, a aceitar que apareceram em meu caminho, que é preciso uma carapaça impermeável, a ser moldada por mim, para que eu possa transitar por novas delas, ou repassar as antigas. Mas eu as temo!
02/04/19
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