segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

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DOR, BELEZA E PERFUME

Nem toda dor, depois de validada, deixa de doer.  Tem aquela dor, que mesmo depois de doída, dói, e dói de novo, como a do espinho cravado fundo, que não se pode arrancar, sem arrancar junto, o órgão acometido de perfuração.  Tem essa dor que é ingrata, que mesmo anestesiada, tem o poder de nos lembrar, que o tecido ferido permanece inflamado.

E quando essa dor, vem do órgão que não pode ser extirpado?  E quando semelhante dor, vem do mesmo mal, que alastrou-se a outras partes?  

Aí então, é deixar doer, para que assim nos lembre, a todo instante, que só quem vive, é que sente dor - os mortos nada sentem.  Ah! ... como eu gostaria de acreditar - que em se cessando a vida, cesse a raiva; em se morrendo a carne, desapareçam as aflições do espírito.

Tenho eu, uma outra convicção, bem mais mórbida, porém muito mais coerente - de que a morte da carne não livra o espírito de suas impressões ... que o espírito se livra do peso da carne e pode ir para onde quiser, mas carregará o espinho, para onde for, bem como levará com ele, inseparáveis, todas as rosas germinadas no seu chão - com a beleza e o perfume originais.

01/02/21



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