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NOVAS RAZÕES
18/12/20
Eu soprei em todas as direções do vento. Percorri a galope, os campos selvagens. Semeei a terra molhada, invadi cada janela escancarada.
Dei tempo ao tempo, para que o fruto da terra, enchesse os cestos. Esperei que o homem, entendesse os gestos e assim, me tornei cativa, de cada uma de suas células, na promessa de vida.
Vivi nos lábios dos apaixonados, no sangue dos enlutados, e ainda vivo.
Rezei na boca das mães, aos seus filhos desamparados e aos esperados.
Não sabia quem eu era, mas aprendi, atravessando a noite dos condenados, que anseiam a liberdade ... e chegando refeita, a cada manhã que vence a dor.
Me sirvo de todo filete de água, de cada intenção sincera, de cada gota de orvalho ou suor - para rasgar as bandeiras, romper as barreiras ... do 'tido como certo', das crenças inúteis, das amarras que prendem os pés, das ideias que nos levam para trás. Abro espaços, para lançar meus esporos.
Não sabia quem eu era, mas aprendi, por mim mesma ... fui sentindo e conhecendo, pela experiência e por observação, ao longo das eras. Fui tateando no escuro, acertando no claro; fui inventando novas razões, quando as antigas venciam, tudo para me manter viva. Falam que morro por último, mas desconfio que isso nunca acontece ... e se acontece ... ressurjo das cinzas.
O que mais sei fazer é esperar, sem saber por quê, para quê ou pelo quê ... ou talvez, eu até saiba ... e essa certeza deve ser congênita.
Dizem que sou verde, mas acho que posso ter qualquer cor ... eu terei aquela que mais lhe agradar!
esporos - unidade de reprodução das plantas
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