quinta-feira, 22 de outubro de 2020


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POR OUTROS E NOVOS ÂNGULOS

22/10/20


Eu procuro sempre me manter próximo à praia, onde eu possa ver o continente, me guiar por sua geografia, mantendo-me longe das grandes correntes, que tirariam da rota, a minha frágil embarcação.

Invariavelmente, um vento ou outro, me arremessa contra os rochedos que rodeiam a costa, nesse movimento, me descubro, enfrentando águas profundas, as mesmas que tentei evitar.

Sou forçado a lidar com as avarias do casco, das velas; as minhas, as mãos calejadas no roçar das cordas, o rosto e os lábios ressecados pelo sol e o sal.

À minha necessidade de preservação e ao meu espírito de aventureiro, o desespero é garantido.  Ele se apossa de mim, como águas vivas, que se levantam do mar e tomam meu corpo, trazendo a queimação à carne e às ideias. 

Debato-me em táticas aflitas, executo os protocolos de emergência, envio sinalizadores de resgate, indicando minhas coordenadas; rogo aos céus; vejo as mãos sangrarem, sinto o corpo doer e o ânimo desfalecer.

Já nem sei, quem é que comanda o barco, o timão não obedece à minha força, a noite se antecede, desconheço o rumo que tomo.  Mas não desisto de segurar forte a roda, que coordena o leme, que lá debaixo, parece não conseguir rasgar o fluxo das águas.  Estou à deriva, ou assim penso!

Não sei por quanto tempo, enfrento essas águas revoltas.  Depois de ter as forças exauridas, de muito e muito tempo ter se passado, o céu se abre, as águas se acalmam, volto a  avistar a costa, de uma forma um tanto diferente, por outros e novos ângulos.  Retorno às águas serenas e conhecidas, apreciando o relevo familiar. 

Percebo que embora ferido, saí ileso, que as avarias do meu barco, não me puseram em risco, que sempre houve quem dirigisse o leme, enquanto eu segurava firme no timão dos meus ímpetos -  que mesmo eu desconhecendo a rota, ela tinha sido traçada e executada, por quem sempre esteve ao meu lado, acima de mim, abaixo - que me criou e não me abandona, porque não dorme.

Meus olhos descansam nas areias brancas e se emocionam sobre  a superfície transparente das ondas silenciosas.







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