Fragmentos 360
O sonho, a escada e a lagartixa
(Nada a ver)
Não
diria que é um sonho recorrente – eu diria apenas que quando sonho - sei que já
estive por lá, algumas vezes, como se fossem seguidas tentativas de conseguir
obter exito numa tarefa, que me parece quase impossível concluir, até agora.
Em
cada uma das minhas tentativas -
acredito eu - que esteja logrando progresso, pois acabo usando de
formas diferentes, pra buscar descobrir como fazê-lo, ou seja, como devo
proceder, na esperança de ser vitoriosa no meu intuito!
Eu
me vejo numa escada muito parecida com a de minha casa, que no quinto degrau,
começa a convergir pra direita, fazendo um leque de três largos degraus, tornando-se
reta novamente. Porém a
uma certa altura, lá pelo décimo terceiro degrau, a escada desaparece,
deixando-me sem ter onde pisar. Sou obrigada a parar a escalada, pra analisar
as possibilidades que me permitiriam terminar a subida. Nesse momento, eu me lembro daqueles
edifícios onde não existe décimo terceiro andar.
Devo
dizer que a escada da minha casa, possui apenas dezesseis degraus concretos e que
me levam de uma forma segura ao andar de cima.
Essa escada, não! Acho que deve ter mais alguns degraus que eu não vejo,
pois não estão lá, e sei também que ela vira à esquerda, um lado sombrio, pra
onde devo ir. Essa escada abstrata, continua além do ponto em que a concreta
termina.
A
sensação é muito estranha, é como se tivesse chegado até um ponto da caminhada
com muita certeza e determinação – pra empacar
nesse ponto tão crucial e de forma a me sentir tão impotente.
Lembro-me
de que tento desesperadamente, me agarrar pelas paredes, como uma lagartixa faz
- no meu caso com as unhas - mas o que consigo é apenas, escorregar e voltar ao
ponto inicial! Me faltam ventosas que me prendam às paredes, ou quem sabe tenha
que aprender a usar as unhas dos pés também. Estranhamente, não machuco as
mãos! Volto a refazer o caminho, e no mesmo ponto, tento novamente vencer esse
espaço vazio no ar, porque sem dúvida - esses degraus continuam inexistentes,
não importa quantas vezes eu sonhe esse sonho.
Em
uma de minhas pesquisas, aprendi como as lagartixas se prendem às paredes e ao
teto. Durante muito tempo, acreditou-se
que elas possuíam ventosas, mas depois descobriu-se que na verdade, o que elas usam
pra desafiar a gravidade são as forças intermoleculares. Esses
atributos seriam muito bem vindos pra mim, no sentido de galgar esse patamar sem
acesso, através de pés. Uma vez, possuindo
essa capacidade, porque também, não ter a
de renovar a minha cauda, como elas têm?
Eu poderia de uma forma bem literal, subir pelas paredes, enquanto a
minha cauda bem distante de mim, com seu movimento involuntário, estaria a
prender a atenção de um possível predador. Me espanto com a ideia de que, a lagartixa seja um ser mais evoluído do que eu!
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Em 1960, um cientista alemão chamado Uwe Hiller sugeriu que essa
habilidade estava relacionada a um tipo de força de atração e repulsão entre as
moléculas da pata da lagartixa e as da parede. Essa força é conhecida na Física
como força intermolecular de Van der Waals.
Na prática, funciona assim: as patas das lagartixas têm milhões de
pequenos pelos, chamados de setae --uma espécie de
cerda queratinosa minúscula com terminação pontiaguda microscópica.
Quando a lagartixa dá um passo, há um deslocamento de elétrons entre os átomos
da pata da lagartixa e os átomos da superfície parede, gerando uma força de
atração intermolecular que a mantém grudada na vertical.
Esta força de adesão da lagartixa é a seco. Se fosse uma
adesão úmida, com substâncias mucosas ou oleosas criando uma "cola" e
agindo pela pressão negativa (o vácuo), ela não conseguiria andar em
superfícies molhadas e muito lisas.
Recentemente, também descobriram que, além dos dedos grandes
com muitas cerdas, as lagartixas também "endurecem" o corpo de forma
geral ao andar, o que aumenta as forças de Van der Waals.
Mas não pense que todo mundo acreditou na explicação dada por Hiller lá
em 1960. Foi só quarenta anos depois que uma equipe de cientistas conseguiu
provar que o fato de as lagartixas conseguirem andar pelas paredes sem cair
estava mesmo relacionado às forças intermoleculares.
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