quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

 1685




OS TEUS OLHOS E OS MEUS

Ah, os teus olhos!  Eu os vejo à minha frente, quando fecho os meus.  São portais que me fazem transpor um limiar aquoso ou feito de vapor.  Não sei dizer se acesso o que vai dentro de mim ou se desbravo o que está para além dos teus olhos.  Penetro lugares, tempos e espaços, até então desconhecidos, mas que me são profundamente familiares, e onde desde sempre quis estar.


Não tenho medo de sumir ou de não conseguir voltar, temo apenas, um dia, perder esse acesso!  E eu volto, lentamente, embora de olhos abertos, um pé aqui, outro lá, como se ainda enxergasse através dos teus.  Sinto que não sou o mesmo, trago comigo, lembranças e sensações novas; sei que lá deixei algo de mim.



domingo, 5 de janeiro de 2025

 1684



IMPROVISO


Os balões subiram aos céus, carregados dos nossos desejos para o ano novo.  Alguns, tiveram trajetória livre ao sabor do vento, outros ficaram presos nos galhos das árvores mais altas.  Talvez estivessem mais pesados(?), quem sabe estariam à espera de permissão para subir(!) …  Ao final, todos sumiram das nossas vistas, para além das nuvens.  


Eram nossas petições esperançosas. Quais foram deferidas?   Não sabemos!  E como os desejos são cheios de expectativas, nem sempre serão concretizados; haverá aqueles que morrerão antes disso - os natimortos.  Certamente, muitos serão indeferidos, apesar das nossas súplicas, que os acompanharam na subida.  Há ainda aqueles, que serão realizados, em parte, de uma forma diferente, e nem perceberemos que foram atendidos.  Certos deles, serão negados, veementemente.


Pela razão simples: desejar é lícito, porém nem tudo nos é conveniente!  Então eu pensei nos planos que fazemos e que dificilmente, saem como planejado.  Foi inevitável admitir, que somos compositores de melodias, sujeitos às circunstâncias imprevisíveis, lidando o tempo todo com o inesperado.  E que por mais que nos esforcemos na colocação perfeita  das notas, nos deparamos com a necessidade de rever os arranjos a todo instante.  Por consequência, somos todos forçados a ‘improvisos’ frequentes.


Fizemos a nossa parte, a primeira - desejar.  Foi lindo de se ver, pareciam pequenas gotinhas de mercúrio, de um termômetro quebrado, se espalhando sobre o algodão manchado das nuvens; só que dessa vez o mercúrio contrariou a força da gravidade   A segunda parte, ainda está por ser feita!


Se as águas que sobem, quando sugadas pelo céu, depois são devolvidas à terra, e se embrenham por suas entranhas … nossos pedidos, possíveis ou não, retornarão, de uma forma ou de outra.  É preciso estarmos atentos e prontos, na hora de reconhecer, qual ajuste deve ser feito.


sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

 1683



DESERTOS E MATAS

Atravessei noites insones e os áridos desertos.  Conheci as dores silenciosas e os medos medonhos.  Juntei os segundos, minutos e horas, passei através deles um fio e fiz um colar - porque era só o que eu podia fazer.  Procurei abrigo durante as tempestades de areia, e pude sentir cada grão riscando minha pele.  Ouvi o grito desesperado das dores sem voz.  Curvei-me às sombras dos medos ferozes.  

Nos entremeios, tive manhãs e dias radiantes; visitei matas e deliciei-me com seus encantos e brisas.  Escutei as batidas potentes do meu peito, nos momentos de alegria.  Algumas vezes, me fiz muito maior do que os medos medonhos, e eles fugiram, a ganir, como bichinhos medrosos.


Aprendi sobre gratidão, a cada manhã brilhante e a cada nova oportunidade.  Não conheci todas as dores, felizmente, só algumas; como também não venci todos os medos.  Ainda tenho noites insones e longas, lugares ermos para transpor.  Ameaçam-me tempestades secas como as de areia, outras de águas colossais.  Mas permaneço na confiança de que, quem me criou não me abandona.


terça-feira, 3 de dezembro de 2024

1682




UMA USINA DE IDEIAS

Impossível pensar só com a cabeça.  E como não há como separá-la do resto do corpo, nem impedir que qualquer pensamento provoque no físico ou no emocional a devida resposta - ondas cerebrais de frequências várias, repercutem sobre todo o corpo.  As ondas de energia criadas pelo pensamento - concebidas por instrumentos, suas engrenagens e funcionamentos desconhecidos, viajam pelo sistema nervoso.

Não se pensa só com o pensamento, se pensa com o corpo todo: com o cérebro, com o coração, com os nervos…  Pensamentos impactam as glândulas, que disparam hormônios através da corrente sanguínea, e fazem chegar sensações pertinentes ao tipo de vibração emitida, a todos os órgãos e células.


A saúde depende de nosso estilo de vida, do alimento físico, do ar, mas sobretudo de como nutrimos nossa mente.  O pensamento tem uma base física - a rede neural, mas não se circunscreve ao cérebro, ele irradia-se, por toda a nossa constituição, física e extrafísica.


segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

 1681



DEBIENDO EL PATO

¿Por qué, por mucho que paguemos, siempre tenemos la sensación de que cada vez estamos más endeudados?  Ya sea que admitamos nuestra culpa o no, el hecho es que pagamos, y punto.

Ya no se trata de 'pagar' o 'estar endeudado', ¡sino de saber exactamente quién es el verdadero pato de la historia!  ¡Estoy bastante seguro de saber quién es!



quinta-feira, 14 de novembro de 2024

 1680




'UNDER THE RADAR'

Um sentimento verdadeiro não tem prazo de validade, e se tivesse – certamente o desobedeceria.  Mesmo em condições desfavoráveis, mesmo que a espera seja longa ou que as razões o convençam à morte; ele permanecerá vivo.  A despeito de todas as contrariedades e impossibilidades incisivas, tão explícitas quanto cortantes, não arredará pé de ser sentido; resistirá até, ao ser preterido.  Talvez seja mais fiel a ele próprio (do que à pessoa amada), em suas convicções e desejos, e sem nenhuma gota de água ou luz, ele sobreviverá, ainda que na surdina e sob o anonimato.


‘under the radar’: na surdina

arte __  catrim welz-stein

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

 1679  




OLHO DE HÓRUS 

De véspera e há tempos, semeados nos campos, os frutos estão à espera!

Sob o sol, sob as luas e da química no crisol, se fez o ser de muitas substâncias, através das saias dos tempos.  O ardor nos templos, o temor das víboras, forjaram seu caráter.  Amuletos dependurados ou riscados pelo corpo e as alquimias mais remotas, estiveram presentes afugentando o perigo.

Dos sete faraós e seus paletós de ouro, às ralés de todos os impérios, nunca houve quem não colhesse do que plantou!


crisol - recipiente utilizado para experiências químicas em que se têm de misturar ou fundir substâncias, metais; cadinho.