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LUAR AMARELO
31/08/17
Um homem de estatura mediana, sobe a escada que liga o calçadão do rio à ponte que o atravessa por cima.
Enquanto ele sobe, degrau a degrau, a sua sombra se agiganta, projetada na parede de pedra e musgo - sob o efeito da iluminação amarela colocada no chão, que acompanha toda a margem do rio.
O que ele é, grita por dentro, porque sabe que gritar para fora não resolve. Porque sabe ... não há ninguém para ouvi-lo – porque não há mais ninguém com ele ... e que mesmo que estivesse acompanhado, não teria garantias de ser ouvido, caso gritasse.
É um desses lugares que só vi em filmes, nunca pessoalmente (embora não seja referência de conhecimento geográfico-político-social) mas imagino que deva ser na Europa, talvez em Paris.
O homem é um personagem saído de uma novela ou estória – mas pode perfeitamente ser uma pessoa qualquer, imersa em sua realidade – podendo ser eu ou você – qualquer pessoa que estivesse caminhando pelo calçamento muito bem feito e encerado, pelo efeito da mesma luz amarela que agora está em cima.
Como foi parar lá, não sei, talvez estivesse fugindo de alguém ou de si mesmo, talvez tenha ido fumar ou soltar umas bufas.
Não o vi quando desceu da ponte, porque o fez por outra escada, só o vi quando já caminhava pelo chão iluminado de peças bem colocadas, num cenário envelhecido. Enquanto esteve debaixo da ponte, não pude vê-lo porque nessa hora esteve às escuras, apenas pude adivinhar seu vulto.
Quem poderia saber, o que fazia? Tentava escutar o rio? Ou o seu silêncio, para ‘copiá-lo’? Porque, ver? Não poderia ter visto nada naquela escuridão! Quem sabe, procurasse um portal!
Não vi de onde veio, nem para onde foi, veio da ponte, desceu por uma escada e subiu por outra, retornou à ponte, mas não sei se refez o caminho de volta ou se seguiu em frente. Enquanto esteve ao alcance da minha visão, permaneceu na mesma margem do rio.