E quando
a máscara caí?
Os narcisistas perversos são
verdadeiros atores. Falar e persuadir sobre qualquer assunto é uma bela e
funcional tática que dominam com maestria, mesmo sem preparo algum: poesia,
literatura, sociologia, filosofia, psicanálise, psiquiatria, economia ou tantos
outros. Não se preocupam que as manifestações de suas histórias sejam falsas,
já que dificilmente isso será percebido, considerando a firmeza e a imaginação
com que envolvem os seus relatos e suas vítimas.
Possuem um estilo de vida
socialmente teatral, com persistente busca de atenção e excitação, sempre permeada por um comportamento muito
sedutor, continuamente tentando
satisfazer sua forte necessidade de atenção.
Exibem um engenhoso sistema de negações. As dificuldades interpessoais
são racionalizadas e a culpa é sempre projetada sobre terceiros.
As atenções são tantas, são tão
prestativos e legais, que quem assiste fica envolvido com sua atenção.
Incapazes de focar em desconfianças, como se estivessem sob o efeito de uma luz muito forte jogada em seus
olhos, ficam cegos para todo o resto. Vestindo suas máscaras de gentileza e
bondade permeadas por uma inconcebível simpatia, os narcisistas conquistam um
verdadeiro fã clube que muito cedo, como inocentes ovelhas, não serão capazes
de pensar por si próprios e repetirão à risca as tramas de quem as rebanha. São
os flying monkeys ou facilitadores, os
que apoiam as falcatruas.
Quando são descobertos em suas
mentiras, não se embaraçam; simplesmente mudam a sua história ou distorcem os
fatos para que se encaixem novamente no seu discurso e seguem em frente com seu
teatro. São tão firmes quando fazem isso que quem escuta não pode duvidar.
Gostam de manifestar episódios
dramáticos de afetividade, que nada mais é que pequenas exibições de falsas
emoções. Tudo isso para que possam ser vistos como bons, afetuosos e seres
humanos exemplares. Mas a verdade é que
eles são razão e passam longe da emoção, com comportamentos imaturos de
contínua busca de sensações. Estudos
sugerem que seus cérebros carecem da capacidade de sentir empatia, embora
tenham aguçada a habilidade de perceber as emoções dos outros, o que lhes serve
muito bem como uma ferramenta.
Sempre dispostos a depreciar
imediatamente a qualquer um que represente alguma ameaça ao seu poder, chegam
mesmo a perder o controle e explodir de raiva, principalmente quando
contrariados e sem saída.
Os perversos quando assumem o que
realmente são têm tendências impulsivas, profundo ressentimento e mau humor
para com os membros de sua família e pessoas próximas. Sentem
prazer ao te entristecer, magoar e humilhar.
E o que acontece quando são
contrariados ou pegos no “pulo do gato”?
Pior do que conviver com um perverso é desmascará-lo ou tentar que ele
conte a verdade sobre algum episódio.
Recordo-me de certa vez que
questionei sobre preservativos que estavam dentro do bolso de um casaco. Foi
neste momento que ele retirou sua máscara bondosa e apresentou o monstro que
jazia debaixo dela de uma forma que eu nunca havia visto. O olhar de ódio,
quase flamejante, fez com que eu desse um passo para trás num instinto de
autopreservação. Por sorte, fomos
interrompidos pela ligação do irmão que nos esperava para levá-lo ao aeroporto.
Saímos e ele ficou mudo, me
ignorava totalmente. O silêncio é outra estratégia de ataque dos perversos
narcisistas e fere tanto ou mais do que afiadas palavras. Na volta, ele
resolveu “quebrar” o silêncio e o monstro se fez presente: aos berros ele me
chamava de louca, descompensada, insana e inoportuna. As acusações eram tantas
que minha cabeça girava e eu não conseguia esboçar um “ai”. A voz dele era tão
alta que manteve a minha presa. Não consegui me conter, as lágrimas escorriam e
aos soluços baixei a cabeça e orei, pois ele dirigia em alta velocidade. Era
como se, fazendo aquilo, ameaçasse a minha vida em ato, enquanto me feria com
palavras.
Quando percebeu que eu chorava
começou a gritar mais alto ainda! Dizia que eu só sabia chorar, que o
incomodava e depois não tinha argumentos e então chorava para tentar comovê-lo,
fingindo estar triste. Para um perverso narcisista, é comum acusar o outro de
fingimento, talvez porque seja tão comum para eles fingir que tornam-se
incapazes de acreditar que alguém possa
ser verdadeiro.
Assim andamos duas horas por uma
rodovia, eu aos prantos e ele aos berros como uma fera selvagem. Desci muda do
carro e prometi a mim mesma que jamais alguém gritaria comigo daquele jeito.
Não sei de onde tirei forças. Não sei como sobrevivi. Talvez algo dentro de mim
que me impedia constantemente de desistir...
ótimo texto. Eu gostaria de ler algum relato de um narcisista que perdeu a máscara finalmente. Porque tudo que sempre leio me mostra que eles nunca se dão mal...
ResponderExcluirInfelizmente eles nunca se dão mal, tamanho o poder de manipulação
ExcluirComo posso falar com vc?
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