quinta-feira, 21 de julho de 2016


E quando a máscara caí?





Os narcisistas perversos são verdadeiros atores. Falar e persuadir sobre qualquer assunto é uma bela e funcional tática que dominam com maestria, mesmo sem preparo algum: poesia, literatura, sociologia, filosofia, psicanálise, psiquiatria, economia ou tantos outros. Não se preocupam que as manifestações de suas histórias sejam falsas, já que dificilmente isso será percebido, considerando a firmeza e a imaginação com que envolvem os seus relatos e suas vítimas.

Possuem um estilo de vida socialmente teatral, com persistente busca de atenção e excitação,  sempre permeada por um comportamento muito sedutor,  continuamente tentando satisfazer sua forte necessidade de atenção.  Exibem um engenhoso sistema de negações. As dificuldades interpessoais são racionalizadas e a culpa é sempre projetada sobre terceiros.

As atenções são tantas, são tão prestativos e legais, que quem assiste fica envolvido com sua atenção. Incapazes de focar em desconfianças, como se estivessem sob o  efeito de uma luz muito forte jogada em seus olhos, ficam cegos para todo o resto. Vestindo suas máscaras de gentileza e bondade permeadas por uma inconcebível simpatia, os narcisistas conquistam um verdadeiro fã clube que muito cedo, como inocentes ovelhas, não serão capazes de pensar por si próprios e repetirão à risca as tramas de quem as rebanha. São os  flying monkeys ou facilitadores, os que apoiam as falcatruas.

Quando são descobertos em suas mentiras, não se embaraçam; simplesmente mudam a sua história ou distorcem os fatos para que se encaixem novamente no seu discurso e seguem em frente com seu teatro. São tão firmes quando fazem isso que quem escuta não pode duvidar.

Gostam de manifestar episódios dramáticos de afetividade, que nada mais é que pequenas exibições de falsas emoções. Tudo isso para que possam ser vistos como bons, afetuosos e seres humanos exemplares.  Mas a verdade é que eles são razão e passam longe da emoção, com comportamentos imaturos de contínua busca de sensações.  Estudos sugerem que seus cérebros carecem da capacidade de sentir empatia, embora tenham aguçada a habilidade de perceber as emoções dos outros, o que lhes serve muito bem como uma ferramenta.

Sempre dispostos a depreciar imediatamente a qualquer um que represente alguma ameaça ao seu poder, chegam mesmo a perder o controle e explodir de raiva, principalmente quando contrariados e sem saída.

Os perversos quando assumem o que realmente são têm tendências impulsivas, profundo ressentimento e mau humor para com os membros de sua família e pessoas próximas.  Sentem  prazer ao te entristecer, magoar e humilhar.

E o que acontece quando são contrariados ou pegos no “pulo do gato”?  Pior do que conviver com um perverso é desmascará-lo ou tentar que ele conte a verdade sobre algum episódio.

Recordo-me de certa vez que questionei sobre preservativos que estavam dentro do bolso de um casaco. Foi neste momento que ele retirou sua máscara bondosa e apresentou o monstro que jazia debaixo dela de uma forma que eu nunca havia visto. O olhar de ódio, quase flamejante, fez com que eu desse um passo para trás num instinto de autopreservação.  Por sorte, fomos interrompidos pela ligação do irmão que nos esperava para levá-lo ao aeroporto.

Saímos e ele ficou mudo, me ignorava totalmente. O silêncio é outra estratégia de ataque dos perversos narcisistas e fere tanto ou mais do que afiadas palavras. Na volta, ele resolveu “quebrar” o silêncio e o monstro se fez presente: aos berros ele me chamava de louca, descompensada, insana e inoportuna. As acusações eram tantas que minha cabeça girava e eu não conseguia esboçar um “ai”. A voz dele era tão alta que manteve a minha presa. Não consegui me conter, as lágrimas escorriam e aos soluços baixei a cabeça e orei, pois ele dirigia em alta velocidade. Era como se, fazendo aquilo, ameaçasse a minha vida em ato, enquanto me feria com palavras.

Quando percebeu que eu chorava começou a gritar mais alto ainda! Dizia que eu só sabia chorar, que o incomodava e depois não tinha argumentos e então chorava para tentar comovê-lo, fingindo estar triste. Para um perverso narcisista, é comum acusar o outro de fingimento, talvez porque seja tão comum para eles fingir que tornam-se incapazes de acreditar  que alguém possa ser verdadeiro.

Assim andamos duas horas por uma rodovia, eu aos prantos e ele aos berros como uma fera selvagem. Desci muda do carro e prometi a mim mesma que jamais alguém gritaria comigo daquele jeito. Não sei de onde tirei forças. Não sei como sobrevivi. Talvez algo dentro de mim que me impedia constantemente de desistir...



3 comentários:

  1. ótimo texto. Eu gostaria de ler algum relato de um narcisista que perdeu a máscara finalmente. Porque tudo que sempre leio me mostra que eles nunca se dão mal...

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    1. Infelizmente eles nunca se dão mal, tamanho o poder de manipulação

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