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DIAS DE 'ADAGIO'
08/08/18
Acordei
em Veneza. Ainda é bem cedo. Não preciso abrir a janela
para saber, que o movimento no canal é intenso. Cada gôndola traz
uma lanterna para iluminar o caminho - dos caminhos bem conhecidos. Será
por pouco, logo vai clarear. Lentamente, o dia vai iluminar as águas, os
páteos, as pontes e as janelas de quem ainda dorme.
Quase
me esqueci do cheiro de mofo, exalando das cortinas, paredes e das
pessoas. Abro as janelas, entram a umidade e o ar salgado, coisas que quem
visita a cidade sente, mas quem vive aqui, se acostumou.
Por
acordar em Veneza, lembro-me, de que conheci Albinoni - como ficou
conhecido no mundo da música, o ilustre. Fomos contemporâneos. Eu o
chamava de Tomaso, mas ele preferia 'Giovanni', acho que gostava de
ser anônimo; e ainda me dizia, que os sentimentos não são de ninguém, nós
é quem pertencemos a eles.
Sinto
que emprestei-lhe minha inspiração, quando ele, ao compor 'Adagio' - sabia
da minha dor, era capaz de me entender e de entendê-la - porque já a sentira
também. Ele a transformou em pequenos desenhos, dispostos no papel, por
isso que sei a partitura completa, dentro da minha cabeça, embora não entenda
de música - eu apenas sei senti-la.
A
angústia lenta, dá passagem às gondolas, ao próprio tempo, que
parece passar diferente por aqui, só o nível do mar nos avisa, que
passou sim.
Quando
acordo em Veneza, o meu peito, mais parece, a caixa oca do
violoncelo, vibrando como ele vibra, a cada uma das notas
tristes, em movimentos lentos, os mesmos do tempo e das águas.
Sou
capaz de me lembrar de cada acorde feito e a qual momento da história se
refere - todos escritos por ele - Giovanni - não por mim, que não
escreve música, só aprecia.
Têm
dias mesmo, em que 'Adagio', parece ser a trilha sonora perfeita
para eles. É nesses dias, que eu acordo em Veneza e escolho 'Adagio',
para fundo musical, porque nenhuma outra obra cai tão bem.
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