sexta-feira, 16 de agosto de 2019

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Um coração só se parte pelo que deixou sentir


Há uma dor aqui dentro que parece que virou de estimação. Chega quando quer e, como se tivesse esse direito, conversa comigo antes de dormir. Conversar com a dor é algo tão íntimo. A dor fala. Conta os dias. Rodopia. Faz horas. Cada minuto dentro da tristeza demora muito para passar, e, como um abraço de aeroporto, transborda na maldade do tempo.
Por mais que não haja dor que o sono não consiga vencer, hoje pouco durmo. Brinco de viajar nas lembranças e me martirizo sobre as lindas emoções que deixei de viver. Lembro dos choros que segurei e como as minhas inseguranças sempre foram estopim de todas as tristezas que já me aconteceram. Hoje, mais maduro com a estranheza dos sentimentos, não me culpo pelas tristezas que vivi, mas pelas que deixei de viver.
Mesmo aparecendo em horas inoportunas, sempre que possível, a deixo sentar no canto mais íntimo do meu coração e choro tudo que um dia não me deixei chorar. Sozinho, ela me mostra que no meu coração cabe muito mais amor do que demonstro caber. Me dá conselhos e diz, em tom de sussurro, como estou perdendo a beleza da vida em não saber dividir o que sinto com os outros. Como se fosse possível guardar o coração para protege-lo do amor que há no mundo. Como se o nosso coração precisasse de proteção…
A verdade é que o amor está aqui para todos. E a disposição em vivê-lo é o que nos torna refém da alegria que um dia iremos desfrutar. Sim, tenho medo, sou pavor em forma de amores, sou a tristeza de todo sentimento que ainda não dividi com alguém. Errar por amar demais nunca será o fim, mas talvez, o pouco dividir dos sentimentos seja o início de um longo fim sozinho.

Luiza Fletcher  27 de julho de 2015

[Este artigo foi publicado na íntegra, devido a clareza dos sentimentos expressos e a beleza que encontrei em suas palavras.]



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