terça-feira, 27 de agosto de 2019

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ECO
27/08/19




Eis-me aqui, de novo, em letras e humores.  Não direi ao vivo e a cores, porque é óbvio que não!  Sinceramente, acredito que das letras e humores, é possível extrair uma cara coerente, com tudo aquilo que digo e pela forma como é dito.  

Alguns têm mãos que desenham ou criam imagens concretas, dando vida e sentimento aos seus personagens e paisagens.  Uma boa voz, que canta, que representa e convence.   Outros possuem um pincel, enquanto eu, só lápis e papel, ou melhor dizendo: tenho meus dedos, o teclado e uma tela virtual.  Pobre de mim, que na maioria das vezes, me falta até mesmo o lápis e o papel.

Do papel que não tenho, faço uma dobradura e invento um barco, que nos leve pra onde eu quero.  Do lápis que me falta, faço dele uma lança afiada, que aponto certeira pra onde desejo, pra onde quero que se coloque o foco de luz e atenção.

Não sou tão pobre assim, mesmo sem lápis e papel, sou capaz de criar imagens concretas, insufladas de vida; pinto as telas que quero, na profundidade e colorido que me der na telha.  Se eu me dedicar mesmo, chego a tirar das minhas frases, alguns sons agradáveis - mas só se eu quiser.  Pela narrativa, serão capazes de adivinhar minha voz, se ela é mansa ou feroz; acima de tudo, posso até chegar a convencer, a quem se dispuser a ser convencido, a respeito do que descrevo.  

É claro, me esqueci de mencionar o mais importante: de que mãos e vozes são meros instrumentos, dando vazão a sentimentos; que só farão sentido se houver ressonância, eco ou reverberação, entre o que é mostrado e o que se enxerga; entre o que se diz e o que se ouve; entre o que se descreve e o que se entende. 



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