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IDEIAS: SEMENTES E CRIANÇAS
03/08/19
As ideias nascem como ervilhas, recém saídas da vagem, verdes e tenras. Caem direto, na panela de óleo quente, me fazem lembrar dos grãos de milho, quicando e vestidos de branco; as ervilhas crus e frescas, se tornam fritas, enrugadas e escuras.
As ideias nascem também, como crianças, ingênuas, que vem encher a casa de docilidade e correria, mas com o passar do tempo, se transformam em nossos confrontadores, exigindo-nos certas respostas.
Como tenho dito, a oficina nunca se fecha, bem como a cozinha, em contínuo funcionamento, seguem a pleno vapor, pois existem muitas cabeças a serem sustentadas e muitas bocas a serem alimentadas.
A ervilha e o grão de milho, me servem de alimento, as ideias também.
As crianças, são sementes que fazemos crescer e se desenvolver, cobradoras futuras, de nossos cuidados inadequados para com elas, quando adquirem consciência. Assim, são as ideias, como as crianças.
Às vezes, uma ideia pode vir a roçar o meu nariz, de leve, como a me dizer: estou aqui. O instrumento usado, uma pluma, ou um fio, um pequeno inseto, me causando uma certa coceira, e até que eu passe minha mão e me certifique de que não coce mais, num movimento quase que maquinal, continua a causar a mesma sensação.
Noutras vezes, é um punhal afiado, que fere meu peito em cheio, provocador de uma dor aguda, mas que não cessa, até que eu venha retirar a lâmina, provocando o maior banho de sangue.
Pluma e punhal, têm o mesmo intuito, uma faz coçar a coceira; o outro fere, para que eu possa sangrar e finalmente, formar a casca de cicatrização da ferida.
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