terça-feira, 27 de agosto de 2019

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MEMÓRIA E SUAS LEMBRANÇAS
27/08/18




Todo dia fazemos planos, sobre como esperamos que ele seja, como executar nossas tarefas.  A verdade, é que a maioria deles, acaba saindo bem diferente do que foi planejado. 


Um pequeno atraso, um acontecimento inesperado, é capaz de nos tirar completamente fora de nosso traçado original, nos fazer ir a lugares que não pretendíamos. 

Foi num desses dias, em que eu me vi, rodando pelo bairro de minha infância e adolescência.

Quando circundei a praça ao lado da igreja, me lembrei dos encontros furtivos depois da missa.

Passei pela frente da velha escola, um pouco diferente e bem mais silenciosa do que costumava recordar.

Uma vez lá, fiz questão de rever a casa mal-assombrada, que nos metia tanto medo.  Era agora, uma casa comum, com um telhado um pouco mais pontudo, onde diziam, morava a bruxa, que nunca vimos.

Lembrei do quintal, de onde roubei a flor dada a minha professora, ele não existe mais.  Do primeiro trabalho em grupo, que se estendeu até a noite e me causou medo de voltar sozinha para casa, pela primeira vez.

Com saudosismo, vi as esquinas dos longos e altos papos, das horas marcadas, dos namoros - vazias. 

Aquelas ruas foram o lugar das descobertas, das primeiras decepções, dos anseios, onde ensaiamos para a vida.

E então melancólica, senti falta daqueles que já não estão mais aqui, daqueles que caíram no mundo sem deixar rastro, dos que não tive mais contato, embora ainda morem no mesmo lugar.

Pude ver as calçadas das casas, que tinham seus portões sempre abertos, das conversas sem fim, pela noite e começo da madrugada.  A moçada não sentia frio, nem fome, nem cansaço, e como tinha assunto!

Saíram do meu arquivo de lembranças, o primeiro beijo, os bailinhos com luz negra, as mini-saias, as frentes-únicas, os sapatos, uma blusa compartilhada, as músicas que curtíamos, os perfumes da época, a 'cuba libre'.

Até do tombo que levei, em plena rua de muito movimento, quando o meu dedão do pé se enroscou na 'boca de sino' da minha calça e eu caí bem na frente de um ônibus.

Foi como entrar num túnel do tempo, mas diferente, o lugar era o mesmo, mas as pessoas não estavam mais lá, foi possível reviver os acontecimentos, em parte.

Eu percebi, que eu não pertenço mais aqueles lugares. Eles é que pertencem a mim, mas apenas nas minhas lembranças.  Constatei também, que é impossível voltar no tempo, só posso voltar aos mesmos lugares. Ainda me pergunto, se tenho realmente, a memória das coisas como aconteceram, ou apenas uma vaga lembrança?


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