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UM OLHAR SOBRE O COMPORTAMENTO HUMANO CAFÉ PROFUNDO
Tenho saudade do tempo, em que a distância entre duas pessoas era só uma questão física. Lembro ainda, de quando ouvíamos uma voz ‘viva’, do outro lado da linha telefônica - a nos dizer sim ou não. Penso, que se ainda existem pessoas educadas e prestativas, elas são as de mais idade. Difícil encontrar quem se permita uma conversa de olhos nos olhos e de peito desprotegido.
A tecnologia está ao nosso favor, mas quando deixa de atender às nossas necessidades, por algum motivo, não há como acessar o que é preciso. Os meios de comunicação mais atuais facilitam a conexão verbal, o reencontro de velhos amigos, porém muitas vezes, essa conexão se mostra rasa demais.
Sinto a distância de quem está perto. Desespero quando ao tentar falar com uma ‘máquina’, ela não me entende, porque o que eu desejo não se encaixa em nenhuma das suas opções. Em contrapartida, vejo um crescente desinteresse no atendimento pessoal, e no lugar de fazer o que são pagos para fazerem, na verdade nos prestam um desserviço. Quase não se veste mais nenhuma ‘camisa’.
Nas conversas de hoje, nem é mais preciso que o outro revire os olhos - sinalizando-nos indiferença ao assunto, simplesmente, ele abaixa seus olhos para o que tem nas mãos, porque afinal as mídias são muito mais atrativas.
Onde foram parar, os longos e largos goles de café profundo, entre amigos? Ficaram no passado, pois cada um tem suas urgências, portanto sem tempo para ser perdido num café. Quantas vezes, só de falarmos a respeito de alguma questão nossa, encontramos as respostas, sem que o outro dissesse absolutamente nada? Isso era muito terapêutico!
Nos acostumamos à força, a estarmos sós, à deseducação, aos monólogos internos, aos desserviços que nos prestam, a cortarmos o assunto ao meio, a tomarmos nosso café sozinhos. Trocamos tudo por ‘informações’, as quais somos incapazes de reter na sua totalidade, e de maneira nenhuma estão nos ajudando a convivermos melhor.