978 __ A ESPERA, O SILÊNCIO E A REFLEXÃO __ 03/06/19
De tanto olhar para a parede, acabei vendo coisa, achando figuras que não estavam lá, mas para a minha visão, elas estavam. A espera é crucial, exige de nós uma paciência, que já não temos. No começo da espera, ficamos 'de boa', mas depois de um tempo esperando, começa a dar um faniquito. Olhava as ranhuras da superfície e via um cão, um rosto, um brasão. Não parou por aí, a criatividade é grande, vi até espectros e carrancas.
Achar figuras, ajuda a passar o tempo, a exercitar forçosamente a minha paciência, que quer voar longe. Tudo requer espera, enquanto isso, quando não procuramos uma figura na parede, podemos refletir, isto é, reflexionarmos sobre alguns assuntos de nossas vidas, sobre os quais procrastinamos.
Em vez disso, dei uma bela viajada.
Tememos na verdade, o silêncio da espera, porque o barulho de dentro incomoda mais, do que aquele que vem de fora. Somos obrigados a prestar atenção, ao que grita dentro e que está abafado pelo corre-corre. Durante a espera pela nossa vez, para um atendimento qualquer, nada podemos fazer, porque o tempo da fila é incerto, não sabemos se haverá tempo de concluirmos um e-mail, ou passarmos uma mensagem.
Agora falando na primeira pessoa - a qualquer momento, posso ser chamada, devo ir sem demora, sob o risco de perder a vez, ou atrasar os demais atendimentos. A espera é o leite no fogo, quando fico de olho, ele não ferve, mas quando pisco desatenta, ele sobe e transborda pelo fogão.
Penso nos provérbios, na sabedoria da humanidade que chega até nós, através deles, como fórmulas não secretas, para tentar evitar questões desagradáveis da vida, ou explicar fatos nada opcionais. Pensei nas coisas inevitáveis sobre as quais não tenho nenhum controle. Pensei nas reações físicas, que meu corpo experimenta, vindas das emoções - como bolhas escapando, da boca de algo que mantenho submerso à força.
A todo instante da minha vida, relembro algum provérbio, que ouvi e não entendi - então penso melhor sobre ele. Porque sem duvida, como todos, tem um fundo de verdade, transmite uma sabedoria apreendida.
Durante a espera, me ocorreu este: "quem dorme de meias é defunto". Minha avó o usava com frequência. Nunca soube, se a razão dela dizer isso, era simplesmente, por não gostar ou não conseguir ficar de meias, na cama.
Mas eu gosto de 'levar pra casa', as coisas que ouço e não compreendo. Esse dito, é uma delas.
Vamos lá, eu tinha tempo mesmo! Tinha já, silenciado o celular, guardado na bolsa, tinha fechado os meus olhos, respirado fundo, tentado todas as técnicas, mas o tempo se arrastava feito lesma lerda.
Então, eu pensei, o que é um defunto? Bem, eu sei exatamente o que é, mas no sentido figurado, o que seria? Alguém sem possibilidade de escolha? Alguém, não necessariamente morto, mas tolhido de liberdade!
Mas o por quê das meias, na estória? É certo que meias não têm utilidade alguma ao defunto. Seriam as meias, algum impedimento? .. não ao defunto, porque para ele tanto faz, mas e para alguém bem vivo!? ... que talvez se comporte como defunto? Nunca soube se esse provérbio era de sua autoria, ou se de autor desconhecido, e tendo ela escutado, o passou à frente.
Não consegui estabelecer conexão entre defunto e meias e dormir, tampouco consegui achar sentido pra esse dito. Não foi daquela vez, deixei em aberto, essa curiosidade, para uma próxima, em que tivesse mais tempo e sorte, para conjecturas.
Pensei em um outro: "tem quem peide mais alto que a bunda" Esse era, pesado e fedido, porém não difícil de se compreender, era autoexplicativo. Dizia respeito à pessoa arrogante, para quem, até seus defeitos, seriam melhores do que os dos outros.
Chegou finalmente a minha vez de ser atendida, eu deixei a parede, as meias e o defunto; um possível mau cheiro; também tinha procrastinado, mais uma vez, por mais uma oportunidade de pensar, sobre questões da minha vida.
Ou quem sabe não! Ao pensar nos provérbios, tinha trazido à tona, coisas minhas, de lá do fundo, para serem examinadas. É isso, executei algumas reflexões, a meu respeito, sem querer. Eu não diria, ter sido guiada pelo acaso, nesse casos, foram algumas bolhinhas, que me escaparam de uma forma bem despretensiosa, da parte de mim, que guarda muitas tralhas, as quais, ainda não posso dispensar.
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