209 __ PORQUE A BOCA NÃO PODE CALAR __ 28/06/16
No
céu da minha boca
estrelas
dizem que a estória ainda não acabou
balões
coloridos cheios de mim
ultrapassam
as nuvens e só não tocam as estrelas
porque
ainda é dia e não posso vê-las!
São
pequenos pontos “G”, em local indevido
onde
dança minha língua solitária!
Os
mesmos lábios que oram ... reclamam
beijam,
bendizem, bocejam, blasfemam
...
vociferam!
Tenho
um oceano doce e cálido, que calmamente
transborda
em transparência, quando falo de palavras bonitas
...
são meus peixinhos amarelos, que chegam até a beira
e
mordiscam os meus pés.
Esse
mesmo oceano pode ser tomado pela fúria
virar
substância ácida e corrosiva
e
cuspir revoltado os destroços mais cortantes
...
que dilaceram primeiro aos meus lábios!
Mas
quando o mar é proibido de chegar à areia
ele
se aproveita da escuridão da noite
e
se retrai em silêncio - se esvaindo por um grande ralo
sumindo
por completo numa maré baixa ... exagerada!
Deixa
à mostra, as minhas menos de ‘32 formações de cálcio'(*)!
Chega
às profundezas da terra e lá se transforma ou se re_codifica!
E
eu confio na minha memória!
Nas
primeiras horas da manhã do novo dia, saio a caminhar pela praia,
sei
que vou encontrá-los ... regurgitados um a um
em
símbolos representativos de linguagem
de
início, um tanto desconexos,mas depois de ordenados
...
vão fazer todo o sentido!
O
mar que recuou, reconquista agora
um
'continente' de areia em forma de papel
...
para escrever o que desejar!
E
então... a boca aprende a falar sem nada dizer
...
porque a boca não deve calar
sob
pena do corpo morrer!
(*) dentes
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