Me
lembro das inúmeras vezes em que eu, por brincadeira, desmanchei o laço do seu
avental, mas não me lembro dela ter reclamado disso – ela simplesmente, lavava
as mãos e amarrava de novo.
Às
voltas com suas panelas e travessas, sempre fazendo muito barulho com elas, com
um resultado sempre maravilhoso, saindo do forno, quando apagasse a chama do
fogão, ou abrisse a geladeira. De salgados a doces, ela fazia muito bem.
Nunca
soube qual o tempero exato que ela usava nos pratos que fazia - embora não
fizesse segredo algum sobre isso – parece que nunca acertei a dose – porque o
que fiz, não chegou aos pés do que ela fazia. Era a gostosura dela, que
saia por suas mãos e impregnava o que fazia.
Ela era
uma verdadeira alquimista na cozinha e na vida, com um limão sempre fazia muito
mais do que uma limonada, com dois ingredientes então ... era capaz de nos
surpreender com uma nova gostosura. Permaneceu firme, pilotando o
fogão, até seus mais de oitenta anos, num exemplo de amor e vida.
Não
houve uma só pessoa, que não tenha ido à sua casa e não experimentado ao menos
um dos seus quitutes. E eu digo quitutes, porque o mais trivial nas mãos dela,
virava algo festivo.
Mas não
pense que o que ela fazia era só colocar a mesa e servir ... ela servia a
todos, de si mesma, da sua bondade e carinho.
Acho
que o prazer pela cozinha, eu puxei dela, mas apenas isso.
Quem
fosse esperto, comeria do que ela servia em sua mesa e beberia da sua sabedoria!
Sobre o
chapéu de Napoleão ... ah! ... era uma torta doce em camadas, assadas uma a
uma, depois colocadas, intercaladas de um recheio de baunilha, ao final coberta
por calda farta de chocolate.
Falando
assim, era uma simples torta de massa e recheio doces, mas quando ela fazia,
era motivo para discórdia na família, porque todo mundo queria o meio da torta
– toda a gostosura se concentrava bem ali no meinho, a melhor parte, que se
tornava pequena para tantos ‘olhudos’, que a desejavam. O bom era ser um dos
últimos a comê-la, porque os apressados comeriam as bordas, mas o
coração ficava para o final.
Depois
dela, essa torta já foi feita algumas vezes, por nós, suas netas ... mas posso
dizer que em nenhuma delas, foi digna da mesma nota e não provocou nenhuma
discórdia em família!
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