472 __ CERTA CANÇÃO __ 19/06/17
Eu ouvi aquela canção
... além de ouvir com os meus ouvidos, eu a ouvi com todas as minhas células,
todas as memórias quietas acordaram ... e sem resistência, fizeram vibrar as
cordas do meu piano interno – guardadas dentro de sua cauda de madeira nobre -
no meu peito ou nas minhas entranhas. Foi para mim, como se as suas
teclas, tocadas por dedos doloridos ... estivessem executando uma partitura que
eu sei de cor.
A canção desceu bem
fundo, rasgou e cortou, desenterrou o que eu mesma não sabia que guardava
lá. Embora na época não tenha conhecido a letra dela ... foi o meu hino ao
futuro, de esperança e certeza nele mesmo. Se um dia fizessem um filme da
minha vida, essa canção seria o seu tema ... e mesmo que parecesse piegas, os
meus contemporâneos entenderiam.
Senti meu coração espremido por
uma mão gigante ... que torturado e sem ter para onde fugir, não se conteve ...
fez subir à garganta - o seu desespero - até quase me sufocar. Foi
transbordar pelos meus olhos - que abertos - se viram atrás de uma queda dágua larga
e copiosa. Eu perdi temporariamente a visão.
Quando as comportas
estouraram, da boca também irromperam soluços e lamentos, em sons e resmungos
sem palavras.
Minha jovenzinha e eu
choramos juntas ... ora - eu estava aninhando em meu peito a sua cabecinha ...
ora - era ela quem me recebia no seu colo em posição fetal.
Senti dó de mim - do
tempo dos sonhos puros, legítimos e possíveis ... ao mesmo tempo, tive pena de
mim - dos acertos e dos inúmeros desacertos que fiz.
Pude estar ao mesmo
tempo, nestes dois tempos e sentir suas dores. Aproveitei para chorar também,
pela mulher que serei num terceiro.
Essa é a canção:
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