quarta-feira, 19 de junho de 2019

472 __ CERTA CANÇÃO __ 19/06/17



Eu ouvi aquela canção ... além de ouvir com os meus ouvidos, eu a ouvi com todas as minhas células, todas as memórias quietas acordaram ... e sem resistência, fizeram vibrar as cordas do meu piano interno – guardadas dentro de sua cauda de madeira nobre - no meu peito ou nas minhas entranhas.  Foi para mim, como se as suas teclas, tocadas por dedos doloridos ... estivessem executando uma partitura que eu sei de cor.

A canção desceu bem fundo, rasgou e cortou, desenterrou o que eu mesma não sabia que guardava lá. Embora na época não tenha conhecido a letra dela ... foi o meu hino ao futuro, de esperança e certeza nele mesmo.  Se um dia fizessem um filme da minha vida, essa canção seria o seu tema ... e mesmo que parecesse piegas, os meus contemporâneos entenderiam.

Senti meu coração espremido por uma mão gigante ... que torturado e sem ter para onde fugir, não se conteve ...  fez subir à garganta - o seu desespero - até quase me sufocar.  Foi transbordar pelos meus olhos - que abertos - se viram atrás de uma queda dágua larga e copiosa.  Eu perdi temporariamente a visão.

Quando as comportas estouraram, da boca também irromperam soluços e lamentos, em sons e resmungos sem palavras.

Minha jovenzinha e eu choramos juntas ... ora - eu estava aninhando em meu peito a sua cabecinha ... ora - era ela quem me recebia no seu colo em posição fetal.

Senti dó de mim - do tempo dos sonhos puros, legítimos e possíveis ... ao mesmo tempo, tive pena de mim - dos acertos e dos inúmeros desacertos que fiz.


Pude estar ao mesmo tempo, nestes dois tempos e sentir suas dores. Aproveitei para chorar também, pela  mulher que serei num terceiro.





Essa é a canção:

THE HOLLIES - "HE AIN'T HEAVY, HE'S MY BROTHER" - LEGENDADO


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