terça-feira, 11 de junho de 2019

982 __ CUIDADO E RESPEITO __ 11/06/19





Como todo livro, mereço ser manuseado com cuidado. A capa, as folhas, devem ser revirados, por mãos que não danifiquem a sua matéria feita de celulose, nem machuquem a essência que ele carrega, feita por meus sonhos e realizações.  Devo ser lido, com toda a empolgação e autenticidade, com que fui capaz de preencher, cada uma das páginas em branco - eu mereço essa consideração e respeito.

Muitas mil páginas, uma para cada dia, com humores e cores diferentes, nem por isso, menos verdadeiras, escritas com caracteres conhecidos. Muito antes, inscritas na minha alma, com traços e figuras, quase que a ferro e fogo, simbólicos é claro, mas que só eu os conheço.

Devem considerar, a minha vontade, tanto quanto a minha limitação, em fazê-lo da melhor forma possível: a subsequente, um pouquinho menos imperfeita, do que a que lhe antecedeu.

Algumas vezes, desenhei alegrias, em outras rabisquei a minha revolta.  Tive espaços em branco; reticências; gritos; sussurros; figuras de linguagem, usadas quando não podia usar as palavras mais óbvias e mais esclarecedoras. Tive risos também. Tudo foi proposital. 

Nele é possível ver, ou ler, coisas que começaram sem nexo, mas que ao final se tornaram concisas e até surpreendentes para mim, que o escrevi.  Mas posso dar garantias, de que tudo que está nele faz sentido, tem um significado, mesmo que eu tenha me servido de termos menos espessos, para amenizar o peso da minha intenção.  Basta estarem abertos e dispostos a perceberem a sua legitimidade, com a cabeça livre de ideias preconcebidas e as mãos limpas de martelos de juiz.

Continuo a escrevê-lo - é exatamente como se diz: o livro permanece aberto, na página correspondente ao 'hoje', mas como qualquer livro, pode ser folheado ao acaso, ou ser aberto numa página específica.  

Sua edição é feita, dia a dia, como disse, há alguns parágrafos.  Revistos, velhos assuntos, nos 'causos contados', pouca coisa eu retoco neles, é usual que eu acrescente um ou outro detalhe, do qual posso ter me esquecido, na época.

Quando eu folheio suas páginas, vejo que em todas elas, estive transparente, numa transparência de dar medo; mas a vergonha, por tê-los exposto, eu não carrego; pois fiz justamente - aquilo a que me propus fazer, desde o início.

Em alguns trechos, poderão ver o sangue correndo pelas minhas veias, de tão claro e real é o meu discurso.  Inflamado pelas mais verdadeiras emoções, saíram como pus, da ferida infectada.  

Em outras ocasiões, consegui falar da ferida, de maneira elaborada, e até poética.  Falei também de coisas alegres e leves, desencavei da memória, fatos acontecidos e dos quais, ninguém saberia, se não tivesse revirado minhas lembranças e achado entre elas, as que mereceram ser imortalizadas.

Quando disse dos 'meus sonhos e realizações', fui extremamente sincera.  Essas páginas preenchidas, frente e verso, estão cheias deles - de meus sonhos e realizações minhas - por isso mesmo, tudo é verdadeiro.  Um exame de imagens, uma ressonância ou uma tomografia, não poderiam mostra mais!

Há quem, o leia e entenda tudo o que está nele; como também há quem leia, e não consiga captar-lhe a verdadeira intenção.  Sem dúvida, haverá quem sequer o abra, por julgá-lo sem importância. 

Eu particularmente, prefiro que o esqueçam, fechado, empoeirado numa prateleira ou sobre um móvel qualquer; do que o folheiem, sem o devido cuidado e respeito, que ele requer e merece.



arte | gloria tremblay

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