873 | A MENINA E OS SAPATOS | 18/01/19
Acho que a vontade de crescer era tanta, que eu vivia calçando
os sapatos de minha mãe e minha tia.
Meus
pés eram pequenos, não preenchiam o espaço interno deles, então eu colocava
algodão na ponta, para que pudesse andar com eles, pelo corredor comprido da
casa.
Eles
eram delicados, de salto alto e fino, bem sociais e elegantes, lembro de um, de
camurça cinza, em dois tons, era o meu preferido.
Ah ...
eu gostava de bolsas também, bem maiores do que eu. Com um esforço acima da
minha capacidade, lá ia eu com uma grande bolsa à tiracolo, até o fim do
corredor e depois voltava, fazendo barulho com os saltos.
Todas
as bonecas que tive, foram quebradas, esquartejadas, eu as colocava deitadas,
como se estivessem num hospital, apenas um boneco sobreviveu à minha tendência
de estudar medicina, que acabou por não se concretizar.
Por um
tempo fiz muitos desenhos de plantas de casas, quando acharam que eu ia estudar
arquitetura. Gostava de brincar de 'escritório', de casinha também, até
bem grandinha.
Mas
tudo passou, medicina, arquitetura, acabei por fazer o curso de 'economia',
trabalhei na área de custos, mas ficou só nisso.
Hoje
penso que deveria ter feito 'letras', ou talvez 'psicologia', mas o que
não devia mesmo é ter tido tanta pressa de crescer.
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