quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

1125 | OBSERVADOR E EXPERIMENTADO | 30/01/20


Com meu corpo largado sobre a cama, pude constatar a 'relatividade do tempo' e a atestar a 'transformação da matéria'.  Tornei-me assim um observador, a assistir a química acontecer, o que me levou a filosofar.  Serei mais claro.

Não sei qual dos dois corpos estava mais quente, se o meu, ou se a cama.  Um local de repouso, era o que ela não estava sendo, estava mais pra um instrumento de tortura.  O ar duro e nada natural do ventilador batia sobre a pele, não refrescava e ainda me deixava irritada.

Primeiro vou falar sobre a matéria: a minha, orgânica; mais a outra, a inorgânica, dos lençóis e colchão.  Eu podia sentir que as duas estavam a se misturarem.  Eu derretia, e de sólido, meu corpo passava a ser líquido, quente e salgado, que por sua vez, se impregnava no tecido.  Na minha ideia, era tudo uma coisa só, cada vez que me virava, o pano grudado na pele, vinha junto. Não havia nem um só pedaço de cama fria, onde pudesse resfriar os pés.  Era tudo uma placa tórrida, a fritar, o que por ventura, nela se deitasse.  Aí está - a transformação da matéria - não só a vi acontecer, como fui parte integrante da experiência.

Quanto à filosofar sobre a relatividade do tempo, vou explicar.  As horas em que passei nessa cama, nessa noite, tiveram os mesmos 60 minutos, que tiveram os  seus mesmos 60 segundos, cada um.  Mas nas condições em que estive, fritando na placa quente, tendo a sensação de que a minha gordura passava ao tecido, podendo até sentir o vapor que exalava da pele quente, não foi uma coisa agradável e muito menos, foram horas repousantes.  Foram intermináveis horas, estendidas, acrescidas de muitos outros minutos além dos 60.  Só conseguia me ver, com mãos suadas, dependurado no ponteiro dos segundos, esperando o calor passar, antes que o próprio relógio se derretesse também.

Muito depois de clarear o dia, é que um ventinho começou a soprar.  A janela tinha ficado aberta a noite toda, na intenção de que uma brisa pudesse adentrar o quarto, mas nem uma gota dela tinha passado pelas grades.  Foi mesmo como se tivesse me faltado o ar, como se me tivesse feito derreter os pensamentos.

Ainda deitado, meus olhos viram uma movimentação estranha, dando uma ilusão de que estivesse saindo do quarto uma certa nuvem quente, como nos efeitos especiais dos filmes, quando se abre um portal, ou coisa assim.  Esfreguei os olhos, pra ver se estava mesmo vendo o que via; a fina tela de proteção contra insetos, passou a balançar e bater nas grades da janela, dando uma ilusão de que estivesse saindo do quarto uma certa nuvem quente. 

A grande peneira, a tela fina, por ela não passaram os insetos, mas deixava passar o ar fresco, tão desejado na madrugada.





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