76 | LA SOLEDAD | 16/01/08
Sobe a escadaria
escura e íngreme, degrau a degrau, estreitos; quem a pouco pisava pelas ruas
frias, com seus saltos finos, aqueles que as mulheres deixaram de usar, há
muito! À noite todas as peles são claras e a maquiagem carregou no batom. Longe
da rua, numa sala mais ampla do que parece, a meia luz, vapores de álcool e
fumaça pairam pelo ar. Não foi lá para fumar ou beber. Vestiu-se para dançar!
A música parece
francesa... Um piano, num desses bares do mundo, onde todos os ritmos cantam e
dançam as histórias vividas ou não. Algumas mesas ocupadas, poucos casais,
homens solitários fazem argolas de fumaça com a boca, vidram seus olhos no
líquido de seus copos.
A música não é mais
francesa, o som das maracas é puro! Ela aproxima-se de uma mesa, onde um homem,
pode se dizer a espera! Ele se levanta e vai em sua direção, colocam-se
próximos para o primeiro movimento da dança... Lentamente iniciam seguros, acompanhando os
sons dos instrumentos que se mesclam, como também o ritmo que evolui para um
"meio" tango.
Alguém canta coisas
de sua vida, enquanto os dançarinos se esgueiram em passos sincronizados,
exatos. Se deixam ver; a brancura da carne através da fenda do vestido e a
seriedade do rosto barbeado. Uma mulher e um homem incomuns. Impassíveis
semblantes, debaixo do foco de luz; mas não impassíveis sentimentos, que
esquentam as mãos, antes frias. Os olhos mergulham nos olhos. Além deles
ninguém mais dança. Talvez seja muito tarde e o bar esteja prestes a fechar...
É a vida, ali cantada e dançada, é só o que se pode ter naquele espaço de
contornos indefinidos pelos vapores saturados. A que horas, em que lugar, em
que país, em que época?
A boca pintada, entreaberta, prestes a falar. Pequenas gotículas aparecem em
seu rosto, desprende-se da sua nuca o perfume que ele conhece tão bem! Executam
a coreografia completa, fazendo valer o esforço da voz rouca que interpreta só
para eles.
Um encontro com
hora marcada, em local específico e sincronia de movimentos, sem discursos ou
declarações dispensáveis. Em circunstâncias estranhas para nós, mas não para eles!
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