quinta-feira, 16 de janeiro de 2020



76 | LA SOLEDAD | 16/01/08
Sobe a escadaria escura e íngreme, degrau a degrau, estreitos; quem a pouco pisava pelas ruas frias, com seus saltos finos, aqueles que as mulheres deixaram de usar, há muito! À noite todas as peles são claras e a maquiagem carregou no batom. Longe da rua, numa sala mais ampla do que parece, a meia luz, vapores de álcool e fumaça pairam pelo ar. Não foi lá para fumar ou beber. Vestiu-se para dançar!
A música parece francesa... Um piano, num desses bares do mundo, onde todos os ritmos cantam e dançam as histórias vividas ou não. Algumas mesas ocupadas, poucos casais, homens solitários fazem argolas de fumaça com a boca, vidram seus olhos no líquido de seus copos.
A música não é mais francesa, o som das maracas é puro! Ela aproxima-se de uma mesa, onde um homem, pode se dizer a espera! Ele se levanta e vai em sua direção, colocam-se próximos para o primeiro movimento da dança...  Lentamente iniciam seguros, acompanhando os sons dos instrumentos que se mesclam, como também o ritmo que evolui para um "meio" tango.
Alguém canta coisas de sua vida, enquanto os dançarinos se esgueiram em passos sincronizados, exatos. Se deixam ver; a brancura da carne através da fenda do vestido e a seriedade do rosto barbeado. Uma mulher e um homem incomuns. Impassíveis semblantes, debaixo do foco de luz; mas não impassíveis sentimentos, que esquentam as mãos, antes frias. Os olhos mergulham nos olhos. Além deles ninguém mais dança. Talvez seja muito tarde e o bar esteja prestes a fechar... É a vida, ali cantada e dançada, é só o que se pode ter naquele espaço de contornos indefinidos pelos vapores saturados. A que horas, em que lugar, em que país, em que época?
A boca pintada, entreaberta, prestes a falar. Pequenas gotículas aparecem em seu rosto, desprende-se da sua nuca o perfume que ele conhece tão bem! Executam a coreografia completa, fazendo valer o esforço da voz rouca que interpreta só para eles.
Um encontro com hora marcada, em local específico e sincronia de movimentos, sem discursos ou declarações dispensáveis. Em circunstâncias estranhas para nós, mas não para eles!

'La soledad' __ Pink Martini __ Album Buddha Bar II

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