346 | MARGARIDAS E PAPOULAS | 20/01/17
Dentro da ‘vaga lembrança’ – que tomou o lugar da minha memória, ou o que restou dela – eu me recordo de duas casas, que gostava muito de apreciar.
Uma delas, ficava há um quarteirão da minha – tinha muro baixo de pedras tipo ‘canjiquinha’, com grades e portão também baixos de um ferro retorcido. De um tempo em que os ladrões eram menos audaciosos e respeitavam mais a propriedade alheia. Era térrea e a fachada feita da mesma pedra, em estilo retilíneo. Nunca encontrei com nenhum dos seus moradores, mas desde sempre achei, que eram felizes, pelo menos eu seria, se lá morasse, pensava eu.
A casa era pequena, não mais do que 5 metros de largura, na época me parecia a ideal. Tanto tempo falando da casa, quando o que me encantava mais, era o seu jardim. Da largura de todo o terreno, repleto de margaridas, todas com a mesma altura, sempre frescas - e margaridas tem um caule muito sensível, logo se dobram, por essa razão. A casa era o exemplo de simplicidade e singeleza, ao mesmo tempo de uma profunda harmonia e um certo encanto.
A outra, ficava um pouco mais longe da minha, algumas ruas, mas no mesmo bairro - que já era bem grande na época. Bem diferente da primeira, parecia até, que era um filhote de cisne junto aos patinhos. Parecia-se mais com aquelas velhas casas da antiga Avenida Paulista, antes da fama. Apesar de não ter nada de velha. Não me lembro de ter visto seu telhado, acho que devido o meu tamanho, com a minha visão também limitada, não conseguia enxergá-lo, mas ela era bem grande. Pegava o quarteirão todo, não exatamente quadrado, era mais pra triangular, numa grande extensão de grades altas que fechavam um jardim enorme, povoado de papoulas vermelhas. Eu nunca tinha visto uma, e encantada, eu sempre fazia questão de passar pela calçada. Nunca entrei nela também, nem sequer lembro se tinham perfume, as papoulas ... mas lindas ... ah isso elas eram!
Essa segunda casa, era o símbolo da riqueza, do máximo, do requinte! Nunca me imaginei dentro dela, ao contrário da primeira, mas em seu jardim eu me imaginei estar, correndo, muitas vezes. Não sei dizer se as duas existiram ao mesmo tempo, a das papoulas foi a primeira a desaparecer e dar lugar a algo mais condizente com o bairro. A casa das margaridas, durou um pouco mais de tempo, até que também deu lugar a algo mais novo.
Tenho certeza, de que quando eu for velhinha, ainda vou me lembrar desses jardins, que muito me encantaram, de suas flores, que se assanhavam ao me ver passar pela calçada e dançavam com o vento, só pra que pudesse vê-las!
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