1028 __ UMA CRÔNICA MUITO SÉRIA __ 29/07/19
É narrativa, descritiva e um tanto lírica, para tentar suavizar um conteúdo denso. Faço algumas analogias, com o intuito de me fazer entender, de uma forma branda, mas enfim, falar do assunto, que sem dúvida,
necessita ser dito.
Às pessoas sensíveis, eu recomendo cautela, pois é extenso, intenso e seríssimo, o que vou lhes dizer ... inclusas estão,
cenas fortes e de conteúdo descomedido e doentio.
A qualquer desconforto, descontinue a leitura.
Você me convidou para um passeio, aceitei, porque também queria fazê-lo. Esperei diversão e prazer, e até obtive, porque em alguns momentos, foi brincarmos no mesmo brinquedo, de um parque de diversões. Mas entre um folguedo e outro - ao que eu me demorei em perceber - pude ver você descontente e nem parecer estar naquele parque.
Às vezes, amuava-se a um canto, como se algo de ruim tivesse acontecido, e por lá se demorava por dias. Eu, sem saber do que se passava, cheguei até a considerar, a hipótese de que era a minha companhia que lhe entediava, ou que eu fizera algo, sem perceber, que lhe desagradava. Quando finalmente, saia de seu reduto voluntário, queria e forçava, retomar a brincadeira do ponto em que havia parado, que ela tivesse continuidade, com mesma graça e alegria, como quem quisesse pegar o mesmo bonde, de onde havia saltado anteriormente. Era impossível, a brincadeira tinha esfriado, a bola tinha parado de quicar e a corda, já não balançava mais no ar. Seu comportamento deixara uma lacuna de vazio e preocupação muito fortes, e o bonde que passava nessa hora, já era outro.
Eu me demorei em perceber e constatar, que você só queria que eu brincasse, se você também quisesse fazê-lo. Quando não, você era capaz de esconder ou picar a bola, queimar a corda, ou entrar num brinquedo sozinho, me deixando do lado de fora.
Houve até brinquedos, em que você me forçou a ir, embora eu não quisesse. Muitas vezes, me levou à 'montanha russa' das suas emoções, arrastada. A isso, também me demorei a perceber: que não respeitava as minhas vontades, nem as minhas emoções - como se eu estivesse dentro da sua cabeça, portanto deveria querer as mesmas coisas.
Foi muito tempo, sem que eu me desse conta, da dinâmica instalada entre nós, com a minha permissão e participação - eu jogava seu jogo. Parecia mais uma zona de guerra, com medição de forças, com entrincheiramentos, com armadilhas - um campo minado. O brinquedo da vez era sem graça, o do outro era o melhor e o mais divertido.
Teve vezes, em que você me levou ao seu 'trem fantasma', e se aproveitou de minha simplicidade e boa intenção, para me assustar com seus monstros particulares, além daqueles, que nos assaltavam, nos corredores escuros e tortuosos. Ria-se muito de mim, num riso, que me parecia mórbido e inconsequente, mas que teve muita consequência ruim. O passeio se tornara chato e perigoso.
Hoje, eu sei que você não é alguém com quem, se possa ou deva, se fazer um passeio. É criança birrenta, que não aprendeu a dividir, a brincar no seu real sentido da brincadeira, que não considera a necessidade do outro.
Tiro ao alvo - era lá que você procurava acertar os maiores prêmios, a ganhar as melhores prendas, e as dar a mim, para que eu esquecesse, ou para compensar os dias de 'molho seco', que aplicara em mim. Nisso também me detive por tempo demasiado, na aceitação de suas 'prendas', na tentativa de me 'comprar' - em me deixando 'comprar' - na verdade, me vendendo aos seus caprichos, limpando sua consciência da sua falha, dando-lhe o esquecimento do fato. Através do mercantilismo de sua lógica, qualquer falta pode ser anulada - a indulgência, pode ser comprada, dispondo de algum valor monetário, dando-lhe o direito ao perdão e ao céu, sem que haja necessidade de reparação dos maus atos.
Hoje, eu sei que tenho meus próprios monstros, que me assustam e não preciso dos monstros alheios, para tanto. Sei também, que quando quiser brincar, eu escolho o brinquedo a ser usado, brincar com quem quer brincar, tanto quanto eu, de uma forma agradável e prazerosa, buscarei aos que querem realmente, diversão e crescimento. Eu escolho as 'prendas' que mereço e quero ganhar, ninguém as escolherá, muito menos você sabe quais. O doce, a pipoca, são bons quando se partilha os sabores e as ideias, entre riso e cumplicidade.
Quando eu quiser uma emoção forte, eu vou à minha própria 'montanha russa', de bom grado, sem precisar pagar pelo ingresso, não precisarei ser arrastada à outra.
Não quero mais 'jogar seu jogo' - saí! Prefiro brincar só, do que mal acompanhada; como o que tenho vontade; nem negócio o meu esquecimento. Quem 'embicou' por conta própria, desembique-se da mesma forma - sozinho!
montanha russa - sobe e desce de humores
molho seco - indiferença, mau humor
trem fantasma - conflitos e medos
prendas - mimos que compram a consciência
embicar - embirrar