831 | BRINCANDO COM FOGO | 24/11/18
Saí à rua na hora mais quente do dia. Os
pássaros, se eu pudesse vê-los, certo e literalmente, estariam com
seus bicos abertos; até os cachorros estavam à sombra, deitados e a pouparem
esforço.
Maldisse o desmatamento, o aquecimento global, a transformação da cidade num lugar inóspito ao homem que anda a pé. Me senti uma criança brincando com fogo.
Eu tinha uma ladeira da preguiça inteirinha pela frente, a ser vencida, e mais que de preguiça, era feita de cansaço, de desesperação e de bofes pra fora. O perfume, a maquiagem, a coragem, já tinham vencido, bem antes que eu chegasse ao topo dela.
Longas e profundas respirações pelo nariz, não tão pequeno, não eram suficientes pra aspirar o oxigênio do ar, que já estava um tanto impregnado com o seu próprio peso.
Juntando-se o seu peso ao meu, dava um montante bem difícil de carregar, rampa acima.
Sabe naquelas vezes, em que caminhamos com os nossos pés, nos conservamos
bípedes ... mas parece mesmo que estamos de quatro, nos arrastando por um
terreno seco e áspero? Pois é, eu me senti assim. Ao conseguir
chegar lá no alto, percebi que tinha deixado a minha pose lá traz, em algum
ponto, e eu não estava nem um pouco disposta a voltar, me apossar dela, pra ter
que subir tudo de novo.
arte | cheiro de alecrim
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