segunda-feira, 11 de novembro de 2019



820 | MONOSSÍLABOS | 09/11/18


No inicio a comunicação é feita de olhares, que dizem tudo e mais, também de suspiros que contém frases inteiras.  Como dois planetas, cada um orbitando em uma galáxia diferente e distante, miram-se pela primeira vez, maravilhados, numa descoberta deslumbrante.  São como duas almas separadas por um inverno rigoroso, que se reencontram, numa planície verdejante e florida.

Dispensadas estão, as palavras, mas se proferidas são muitas, entusiasmadas e sinceras, tentando assim, recuperar o tempo perdido e desfrutar da companhia, da proximidade tão agradável.


Um bom tempo se passa, nessa convivência harmoniosa, partilhando momentos felizes e prazerosos, a vida segue calma e fácil, em clima de conciliação e paz.


Com o passar dos anos, se apercebem de que os planetas originários de galáxias diferentes, possuem rotações com velocidades distintas, suas composições são peculiares ao ambiente em que nasceram; que as almas têm aspirações individuais e próprias, não coincidentes às necessidades do outro.


As frases inteiras, antes assertivas, passam a ser reticentes, não tão cordatas, suas palavras adquirem duplo sentido.  Aos poucos, menos coisas se dizem, menos olhares se trocam, a proximidade já não é a mesma, os caminhos começam a se distanciarem, os corações também.  Por essa mesma razão, embora palavras sejam pronunciadas, a comunicação não acontece.  Monossílabos são desencavados dos primórdios da civilização e trazidos ao uso cotidiano.



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