quinta-feira, 21 de novembro de 2019



58 | UM OLHAR SOBRE O COMPORTAMENTO HUMANO
A COMPARAÇÃO E A AUTODEFESA
21/11/18

Quando em uma relação espontânea, seja ela amorosa ou de amizade, uma parte compara a outra com uma terceira, já não são mais, só duas pessoas a se relacionarem - e sim três, ao menos.  Abriu-se um espaço, pra que um estranho, que nada tem a ver com a relação, interfira com suas particularidades, na conduta de uma dinâmica, que só tem dois lados.

Ao mesmo tempo, quem compara, está na verdade, sem conseguir lidar com uma situação: com o diferente de si - pela sua própria condição incapacitante - de relacionar-se com o que foge de sua  idealização a respeito da outra pessoa.  Há um julgamento prévio do comportamento do outro, segundo à sua própria imagem e semelhança.

A ideia equivocada, que tem do que seria um relacionamento, propriamente dito, escapa ao seu entendimento.  É por isso que, invariavelmente, acusa o outro de ser 'o errado', ou 'o culpado', por este relacionamento não ser satisfatório. Por uma dificuldade que é dele mesmo, e não propriamente, por haver algo de errado com a outra pessoa - fato que lhe escapa à consciência.

Existem pessoas que só funcionam assim, trazem um conceito muito compactado e resistente, de que o outro não pode ser diferente de si, por julgar-se, o único dono da verdade, o melhor, o mais correto, portanto, um exemplo a ser seguido.

Acredito que essa pessoa, na sua infância, sofreu muita comparação, foi preterida várias vezes, humilhada, até que resolveu se colocar a salvo das comparações, de uma forma que suas convicções nunca fossem atingidas.  

Criou pra si, um arcabouço de certezas, um patamar pra sua permanência, sempre um nível acima, inatingível e inacessível aos demais.  São certezas que por razão alguma serão afrontadas, mesmo que acumule perdas ao longo da vida, resultantes da solidificação de suas ideias/crenças e do seu comportamento enrijecido, pela necessidade de autodefender-se o tempo todo.  Dificilmente aceitará a possibilidade de estar errado, caso seja questionado quanto à sua rigidez, afinal foi ela mesma quem o trouxe em segurança, até aqui.

Antes que seja diminuído, prefere ele mesmo, manter o outro num patamar abaixo, garantindo assim sua primazia, e é claro, essa atitude, nem sempre é consciente.  


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