sexta-feira, 22 de novembro de 2019



829 | O QUANTO CABE | 22/11/18

Dentro do vazio cabe muita coisa.  É uma fenda que se abre no telhado de uma casa, um espaço num relacionamento,  na vida; por onde pode entrar uma chuva fina, mas constante; pode caber a busca por um outro amor, numa aventura fortuita; um forte desejo de  vingança, apenas pra causar no outro, a mesma dor.  É sempre uma brecha, que se abre pra a entrada de um vício ou uma perturbação.

O que se chama de vazio, não o é.  É uma permissão dada, um rompimento na linha do tempo, permitindo que as coisas sejam de qualquer outro jeito, menos do jeito que deveriam ser.  Um terreno invadido por ervas daninhas, que trazem pragas e desolação.  É um lugar oco, sem paredes pra sustentarem um teto ou propagarem os sons.  Um lugar sem chão, onde podem caber muitos sacos sem fundo, porque não se conhece a sua fundura.  

A partir daí, nasce e segue um universo paralelo, com tudo o que quer que ele tenha provocado, em quem o sente.  

Uma infiltração que danifica as estruturas, uma traição, uma revolta, e mais, muitos desdobramentos, quando não se percebe a existência do rombo e não se faz a tempo o conserto no telhado; quando não se dá ouvidos às queixas legítimas do companheiro; quando a incapacidade de se colocar no lugar do outro, torna possível  machucá-lo e afastá-lo, da presença e do sentimento.

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