sexta-feira, 1 de novembro de 2019



813 | BRAVO E BRABO | 01/11/18


Era uma vez um pássaro preto. Tinha nome e sobrenome: 'bravo bravíssimo'.  A nossa casa não foi a sua primeira morada, portanto não sabíamos qual a sua idade.

Ele veio pra nós, quando meu filho tinha uns três anos, foi ele quem escolheu esse nome. Era o dono do pássaro, mas quem dava alimento, água e limpeza era eu.  

Mas certamente, ele sabia a quem ele pertencia de verdade, porque toda vez que eu brigava com meu filho, o pássaro parece que se irritava e alterava seu piado, como se quisesse defender seu verdadeiro dono ... e a quem dava permissão de aproximação, porque com os demais, era bem arisco.  Me lembro bem, da mão do dono entrando pela gaiola, e o danadinho já se abaixava esperando o carinho na sua cabecinha.

E o 'bravo bravíssimo' ficou conosco uns bons anos. 

Ele era demais, cantava, resmungava, e se agitava toda vez que, acordávamos e nos demorávamos em descobrir sua gaiola, principalmente quando nas noites de frio, dormia no chão da cozinha.

Foram muitas as histórias.  Quando viajávamos nos finais de ano, ele ficava com um vizinho ou outro, mas sempre se ressentia da nossa ausência.  Às vezes, até ficava jururu por uns dias, por estranhar o ambiente temporário, ou por ter se assustado com alguma coisa. 

Todo janeiro era um festival de penas pela casa, devido a troca que ocorria nesse período.  E nosso passo-preto se renovava, sempre com seu canto estridente e particular, a nos perfurar os tímpanos.

Teve uma vez, que por estar bem velhinho, já com as penas esbranquiçadas, ficou bem fraquinho, tremia, não queria comer, nem beber, muito menos cantar ou resmungar.  Nós o levamos ao veterinário, que lhe deu um remedinho, mas nos garantiu que ele não tinha nada, que o que precisava era passar por uma benzedeira.

Como não conhecíamos nenhuma, eu mesma fiz orações pra São Francisco de Assis, pedindo que cuidasse do nosso 'pretinho'.  

O remedinho era dado com conta-gotas, a ração amolecida como papinha, pro banho: eu amornava a água e era dado na hora mais quente do dia.  Deixávamos que secasse ao sol e assim era obrigado a se exercitar fora da gaiola.

Foram mais alguns anos, poucos, nunca mais foi o mesmo.  Quando ele morreu, foi exatamente enquanto estava com estranhos.  

Demorou um tempo bem grande, pra que nos esquecêssemos do seu piado insistente, de todas as manhãs, antes de descobrirmos sua gaiola, após abrirmos a porta da cozinha pro quintal, onde quase sempre ficava.  Ah!  Como fez falta!  Foi muito triste!

Nunca mais houve outras gaiolas em casa.  Pássaros?  Nenhum residente, apenas os ocasionais.  Os visitantes são sempre muito bem vindos!


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