sexta-feira, 8 de novembro de 2019


562 | SEMENTES DE ESPERANÇA DE LUZ | 09/11/18

O rapaz que ia ao meu lado no coletivo, trazia uma apostila de um curso técnico - mecânico de usinagem convencional.  Estava aberta nas páginas que mostravam alguns gráficos, com muitos vetores e cálculos feitos à mão, a lápis.  Se demorava tempo demasiado, olhando os dados sob seus olhos, era muita informação.

Eu me perguntava, se ele estaria entendendo tudo aquilo.  Se divagava sobre suas dúvidas ou reforçava suas certezas?

Eu me sentia assim, olhando pras 'minhas páginas em aberto' e não sabia se entendia ou não, sabia que não compreendia na totalidade.

O que eu sei?  Aprendi que toda a eloquência e toda a boa vontade, não são suficientes pra melhorar a convivência com os que estão mais próximos.  É com eles, que falo o idioma mais estranho e idiota possível.  Onde as arestas são maiores e mais duras de acertar.

Como nas páginas da apostila, as minhas, muita coisa me parece apenas, gráficos, símbolos e códigos,  rabiscos  que nem sei como os fiz, resultados que não fazem o menor sentido e nem sei como cheguei a eles.

Eu procurava o 'desamaranhamento', desembaraçando o meu novelo de lã todo bagunçado, mas pra isso é preciso achar a ponta escondida.  Onde ela teria se metido?  Ou onde eu, a teria metido?

Os corredores da mente são mais largos que os corredores das construções físicas.  São suficientes pra nos fazer perder por eles.  Desencaixados de nós, deixamos nos arrastar pela escuridão que nem sempre é nossa.


É justo que sejamos arrastados sedutoramente pela nossa,  porque é lá que estão escondidas as nossas 'sementes de esperança de luz'.  Mas nos deixarmos arrastar pela escuridão do outro - quando ele nos puxa pela mão - é morte certa, é condenação a permanecer no escuro sem chance de encontrar a saída - pois nesse lugar não encontraremos nossas 'sementes de luz' - as que nos podem fazer enxergar.


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