Fragmentos 387
Dança do fogo
Rodopio em torno da fogueira, no meio da noite
apagada e sem luzes. As chamas
tremulantes tentam flutuar em direção aos céus para iluminá-lo. Ouço os
estalidos da madeira dilatada - ela grita antes de queimar - debaixo das línguas de fogo. Tudo se funde numa coisa só - o
chão, a madeira e as chamas crepitam em direção ao breu.
A música é mágica e não me permite aquietar, me
incita a girar sobre meus pés descalços, honrando a todas as mulheres que vieram antes de mim e as que virão depois – a elas e as
suas saias longas, seus ventres e seus fogos internos. Numa espécie de transe, eu me deixo levar
pelo ritmo e pelo brilho quente tão próximo de mim. Entreguei meu corpo aos sons. Percebo como é bom ... fazer parte da noite
fria, do encantamento do fogo, do choro da madeira. A dança primitiva dos nossos ancestrais - e o que ela me faz sentir e ver - virarem cinzas, aquilo que não quero mais.
Tenho meus cabelos soltos e esvoaçantes sobre
meus ombros, que se tornaram suados pelos rodopios, e pelo calor, e pelo ardor de
meu ventre. Sinto o amor, num movimento
de subir pelas minhas pernas, passar por mim, por dentro de mim - ele se detém
um pouco mais de tempo em minhas entranhas ... e depois, e só depois, me escapar
pelos braços ... para então retornar às minhas mãos e percorrer novamente o meu
corpo, até entregar-se ao chão. Sim ... nessas subidas e descidas, acaba deixando um tanto dele comigo.
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