sábado, 12 de dezembro de 2015

                                               


          [Textos - 48  -  "Pó e silêncio" -  29/07/15]                                     




Fora sempre pessoa de língua muito eloqüente.  Portadora de uma transparência quase indecente, capaz de fazer virar do avesso a alma e de não deixar senão uma folha de parreira a cobrir suas vergonhas.

Aos ouvidos moucos, a assertividade é um coçador que incomoda. Aos olhos fechados, desenhar é desnecessário e incompreensível.  
Às feridas purulentas, as moscas são indesejáveis...

Confesso que, para minha eloqüência, qualquer sentido que a tivesse captado  seria lícito. Teria obtido êxito!

Mas eu não me dirigi à massa cinzenta, que mora no sótão isolado e sombrio.  Entulhado , onde se assenta em seu trono, de onde não delega poderes e comanda a casa.

Tentei o tecido vermelho irrigado, de muitas portas, que ao se expandir, recolhe, reconforta e retém junto de si.

Esse cômodo quente, bem no meio da casa, muito próximo da cozinha, do quarto de dormir.  De muita circulação e aconchego que possui uma lareira sempre acesa.  Foi em vão!

Estamos eu e minha eloqüência, ou ela e eu, cansados de bater à porta dessa casa sem jardim...  Nossas mãos estão doídas de tanto insistir sobre a madeira rústica e maciça, sem tinta nenhuma. Trancada por dentro... E   ninguém nos atende, não nos ouve!

Batemos há muito!  Lá dentro há apenas móveis cobertos de panos brancos cheios de pó e silêncio. 

Desistimos.  Eu desisto, é só silêncio!  Também, nem quero mais entrar! Perdi o interesse. Ninguém vive lá.  A casa é vazia!                                                                   



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