[Textos - 48 -
"Pó e silêncio" -
29/07/15]
Fora
sempre pessoa de língua muito eloqüente. Portadora de uma transparência quase indecente, capaz de fazer
virar do avesso a alma e de não deixar senão uma folha de parreira a
cobrir suas vergonhas.
Aos
ouvidos moucos, a assertividade é um coçador que incomoda. Aos olhos fechados,
desenhar é desnecessário e incompreensível.
Às feridas purulentas, as
moscas são indesejáveis...
Confesso
que, para minha eloqüência, qualquer sentido que a tivesse captado seria lícito. Teria
obtido êxito!
Mas eu não
me dirigi à massa cinzenta, que mora no sótão isolado e sombrio.
Entulhado , onde se assenta em seu trono, de onde não delega poderes e comanda
a casa.
Tentei o
tecido vermelho irrigado, de muitas portas, que ao se expandir, recolhe,
reconforta e retém junto de si.
Esse
cômodo quente, bem no meio da casa, muito próximo da cozinha, do quarto de
dormir. De muita circulação e aconchego que possui uma lareira sempre
acesa. Foi em vão!
Estamos eu
e minha eloqüência, ou ela e eu, cansados de bater à porta dessa casa
sem jardim... Nossas mãos estão doídas de tanto insistir sobre a
madeira rústica e maciça, sem tinta nenhuma. Trancada por
dentro... E ninguém nos atende, não nos ouve!
Batemos há
muito! Lá dentro há apenas móveis cobertos de panos brancos cheios de pó
e silêncio.
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