segunda-feira, 19 de outubro de 2015

menina
Criança chora enquanto caminha na varanda do jardim de uma escola que abriga pessoas desalojadas pelos ataques aéreos no Iemên liderados pela Arábia Saudita, na capital do país Sana. A foto é de agosto de 2015



Dificuldades na infância alteram estruturas do cérebro




Dificuldades enfrentadas até os seis anos de idade, como doença na família, separação dos pais, mudança de bairro, entre outras, estão relacionadas à internalização de sintomas de depressão e ansiedade que geram alterações na massa cinzenta no fim da adolescência (dos 18 aos 21 anos). Esta conclusão foi publicada em um estudo divulgado no jornal científico JAMA Pediatrics, que analisou um grupo de 494 garotos e suas mães de 1991 a 2010.




“Devemos lembrar que se trata de uma escala de estresse. É normal ter um pouco de estresse na infância, o que medimos é um acúmulo de vários fatores estressantes”, afirmou ao UOL a coordenadora do estudo e pesquisadora do King’s College, em Londres, Sarah Jensen.
“Problemas de internalização, como depressão, estão extremamente ligados a eventos que aconteceram no início da vida”, explica. A equipe usou como referência 37 tipos de estresse, desde os citados acima até a violência física e emocional contra as crianças e contra as mães.
Segundo os autores, o estudo é importante porque mostra que é possível prevenir diversos problemas, em vez de achar que depressão e ansiedade são causados apenas pela genética. “A descoberta de que as experiências da infância podem afetar o cérebro mostra que a primeira infância não é só um período de vulnerabilidade, mas também de oportunidade”, conclui. “Intervenções contra a adversidade podem ajudar a prevenir que crianças internalizem sintomas e as proteger contra o desenvolvimento anormal do cérebro.”
As mães também apresentaram níveis de internalização de sintomas (depressão e/ou ansiedade) quando os garotos tinham 7, 10 e 13 anos. Os dados foram coletados por meio de imagens de ressonância magnética.
Sarah e Edward Barker, outro autor do estudo, explicam que existem duas maneiras de reagir à adversidades, uma é a internalização de sintomas, que é o caso da pesquisa, e a externalização, que se reflete no comportamento das pessoas. A equipe observou três partes do córtex associadas à internalização de sintomas. “A ideia é que algumas partes do cérebro que eram associadas com a internalização de sintomas na verdade estão associadas à adversidade”, diz Barker.
Nas crianças que internalizaram sintomas de depressão e ansiedade, o giro frontal superior apresentou um volume inferior de massa cinzenta. “Isso vai de encontro com estudos anteriores que mostram que regiões frontais do cérebro estão implicadas na depressão”, diz Sarah.
Em relação ao volume do precuneus (região do lobo parietal), houve uma surpresa. Existe uma associação positiva entre adversidades e aumento de volume. “Normalmente, o estresse tem um efeito tóxico sobre o cérebro e a massa cinzenta é menor, mas neste caso, foi maior. Pode ser uma proteção, uma compensação, ou quer dizer que algum nível de estresse tenha um efeito positivo nesta área, mas não sabemos ao certo”, explica Sarah. Essa região já havia sido associada a experiências adversas como maus tratos.
O estudo foi feito apenas com meninos por ter sido feito juntamente com outra pesquisa que observou apenas crianças do sexo masculino. A coordenadora avalia que trata-se de uma limitação e que seria interessante repeti-lo com meninas também.

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