quarta-feira, 28 de outubro de 2015


MANIPULAÇÃO – UMA MANEIRA (INDIRETA) DE SUPRIR NECESSIDADES

Por: Graziela Bergamin
1 manipuladores
Todo ser humano tem necessidades. Infantis e não infantis, ou seja, da criança interna e do adulto que somos.
Necessidade é tudo o que é considerado imprescindível para funcionarmos nos sentindo bem, equilibrados e felizes. Na vida só temos uma única opção que é saciar nossas necessidades, porque se não fizermos isso de forma consciente, faremos de forma inconsciente. Isso é manipulação e vou explicar direito o que é.
Alguém que manipula não consegue pedir ou ir em busca de satisfação da necessidade de uma forma direta, então faz isso indiretamente, seguindo por caminhos obscuros. Com a manipulação, estamos querendo que as pessoas façam o que nós estamos precisando, sem que isso seja colocado de forma clara. Geralmente focamos as necessidades que não foram supridas na infância.
O mecanismo, geralmente é todo inconsciente.
Por exemplo: Alguém que não recebeu proteção suficiente e precisa se sentir seguro, mas não consegue pedir proteção de uma forma direta, pode criar uma situação onde ela precise “ser salva” por outra pessoa. Ou então ela “pinta um quadro” como se estivesse em perigo para que outros façam alguma coisa e ofereçam a sua proteção.
Alguém que precisa de suporte ou ajuda, mas que não consegue pedir isso de forma direta, pode desenvolver uma doença para que as pessoas ofereçam ajuda e ela se sinta apoiada e ajudada.

Algumas formas de manipulação: Mentir, jogar pistas de forma indireta, culpar os outros, fazer sacrifícios, fazer chantagem emocional, bajular, seduzir, fazer promessas falsas, fazer favores, bancar a vítima, ameaçar…
Para manipular, todos nós usamos o que temos de melhor, nossas habilidades.
Por exemplo, se eu for uma pessoa realmente generosa, irei usar da minha generosidade para conseguir que alguém faça o que eu quero. Posso oferecer uma viagem para meu filho, querendo obter a sua atenção (na verdade eu não sei conscientemente que estou fazendo isso, mas meu lado infantil sabe e espera o retorno). É diferente de dar uma viagem pelo fato em si, simplesmente para que ele relaxe e conheça um lugar novo.
Se eu for uma pessoa acolhedora, posso também usar uma “dose extra” de acolhimento, simplesmente porque estou precisando receber elogios do meu marido sobre o quanto eu cuido bem dele e da família.
Se uma mulher é feminina e sedutora naturalmente (o que pode ser muito positivo), mas não recebeu reconhecimento de sua feminilidade, ela pode usar a sedução com o objetivo simplesmente de receber reconhecimento de homens e não por um interesse verdadeiro no objeto seduzido.

Manipulação não faz de nós pessoas ruins. É simplesmente um mecanismo que todos nós temos e que pode ser revelado aos poucos e desfeito. Assim poderemos pedir e buscar o que queremos de forma mais direta e verdadeira.
Vale a pergunta: como eu manipulo? Como eu me asseguro que terei o que preciso sem demonstrar diretamente, sem mostrar minha vulnerabilidade?

Pessoas que se cortam, por exemplo, têm um ganho secundário, ao receber preocupação, atenção. Parece absurdo? Talvez, mas o nosso núcleo interno de memórias de sentimentos e pensamentos da infância tem “configurações” específicas e um enorme impacto na vida adulta, até aprendermos a reconhecer, discernir e cuidar deste aspecto em nós mesmos. Muitas vezes o cuidar é colocar limites.
Pense na sua infância e na sua cultura. Que necessidades não eram aceitas, permitidas? Nós manipulamos mais em relação àquelas necessidades que eram “mal vistas”. Por isso, nós não nos permitimos necessitar de algumas coisas. E como hoje estou satisfazendo estas necessidades?
Para parar com a manipulação, temos que ser corajosos porque temos que permitir sermos incrivelmente vulneráveis (pois temos que admitir necessidades que não achávamos que seria certo ter). Quando temos consciência deste mecanismo, vamos querer diminuir essa forma de satisfazer necessidades e podemos escolher encontrar formas diferentes de satisfação.
Quando você se pegar manipulando outros, pense: O que estou querendo ao fazer isso? Assim que souber, pode ir atrás disso ou pedir isso de uma forma direta. Ou você mesmo pode e deve satisfazer esta necessidade. Você pode criar um diálogo interno, um relacionamento com seu lado infantil, acolhendo, compreendendo e as vezes, colocando limites (com respeito).
Entre em contato com o que você deseja e precisa. Pause durante o dia e se pergunte: o que quero agora, o que preciso agora?

Algumas necessidades emocionais da criança interna (Pathwork):
Atenção
Amor
Apreciação de sua singularidade
Proteção
Prazer

Algumas necessidade do adulto (Pathwork):
Prazer
Amor
Expansão
Auto expressão
Sentimento de estar contribuindo para algo maior do que ele.

Algumas pessoas pensam que se você satisfaz uma necessidade, ela cresce e você quererá cada vez mais e mais. Mas, na verdade, quando você satisfaz uma necessidade real, ficará calmo. Não haverá mais preocupação e desespero. Não satisfazer a necessidade é um ótimo jeito de ficar ganancioso e não o contrário.
Nenhuma necessidade real é infantil demais.
Não devemos negar nenhuma. Digo real porque as necessidades falsas, sim, são infinitas, porque não estão suprindo a necessidade verdadeira. Exemplo: uma pessoa que come demais, sente a comida como algo confortante, engorda sem parar, mas não sabe que o que realmente precisa é de segurança, afeto e reconhecimento.
Quando começamos a satisfazer necessidades da criança, ela sai da estagnação e começa a amadurecer, se desenvolver além daquele ponto onde ficou querendo algo que não teve.
Então pense: quais são as suas maiores necessidades?
Como você busca saciá-las?
Quais você supre e quais são mais difíceis de suprir?
Estas perguntas são difíceis de serem respondidas porque grande parte das respostas estão no nível subconsciente, mas vale a tentativa e principalmente buscar ajuda de um profissional. Nada mais compensador.

“Graziela Bergamini é psicóloga e escritora. Fez cursos de extensão em Harvard  “Human Emotions” e em Lesley University, EUA “Family Couselling”. Formada em Dinâmica de Grupos e facilitadora de grupos pelo Pathwork (método de autoconhecimento). Atendimento em consultório particular desde 2006, palestrante desde 2010. Graziela é também autora do livro “Viagens de uma Psicóloga em Crise”, publicado em 2013.

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